sábado, 28 de setembro de 2013

“Texto de suporte à minha intervenção no “Fórum Pensar S. Miguel”. Caracterizar S. Miguel (hoje) após mais década e meia da sua elevação ao concelho – um ponto de vista que importa reter".

(Parte II)
Após mais de uma década e meia da elevação da freguesia de S. Miguel ao estatuto de município e analisando alguns indicadores económicos (qualidade de vida, emprego, desigualdades sociais e pobreza do concelho e, ainda, analisando os indicadores de estabilidade social), pode dizer-se que o balanço é positivo, pelo que devemos homenagear todos aqueles que desde o inicio acreditaram em S. Miguel e apostaram na sua municipalização, separando-o do concelho do Tarrafal. Está a valer a pena o esforço. S. Miguel está longe de ser o pior concelho de Santiago e do país em matéria de desenvolvimento socioeconómico e especialmente em matéria de qualidade de vida da sua população e do capital social, faltando-lhe, no plano histórico e cultural, que a sua história seja escrita, através da exposição dos verdadeiros factos e motivos que o possam tornar numa das terras simbólicas e referência cultural e religiosa da ilha de Santiago e do país, ao que sem complexos devemos reafirmar que: amamos o nosso município, porque ele é também motivo de orgulho para os micaelenses” . Muita coisa já foi feita, mas muito falta fazer, por isso a inestimável importância deste fórum, sobretudo se pensarmos que através dele possamos mobilizar os quadros de S. Miguel espalhados, um pouco, por todo o país e pela diáspora, que possam, desta forma, tomar partido, dar a sua opinião e ajudar S. Miguel na construção de soluções e escolha das melhores opções de politicas para o seu processo de desenvolvimento.S. Miguel faz parte de uma região marcadamente agropecuária situada na região de Santiago-Norte. E portanto não pode ser compreendido de forma isolada. S. Miguel é parte desse todo que é a ilha de Santiago e parte desse todo que é o país e só nesse quadro  (e em comparação) deve ser estudado, questionado e compreendido, porque em S. Miguel existe também esse direito de produzirmos um pensamento global, para que possamos olha-lo, não de uma forma isolada, mas a partir de uma perspetiva nacional. Podemos começar por perguntar que concelho de S. Miguel temos hoje e que concelho queremos no futuro?  Esta é, sem sombras de dúvidas, uma das questões legitimas que este fórum deve colocar aos micaelense. S. Miguel (arcanjo) é nome do concelho, mas também é nome da nossa freguesia - uma freguesia cujo território é superior ao território municipal[i], que começa em a achada Laja, inclui uma parte da ribeira de Saltos; Uma parte dos flamengos, a vila ou melhor dizendo cidade de Calheta; Veneza, Ponta Verde; Ribeira de S. Miguel; Pilão-cão; Espinho Branco, Mato Correia, Achada do Monte, Ribeira de Principal, Chacha, Gon-gon, e Monte Pousada; Uma freguesia/concelho muito especial, único na ilha de Santiago com três cemitérios: o de Casa Branca; Ponta Verde e Bolanha, com várias capelas de construções manuelinas, tais como a igreja da Ribeira de S. Miguel; a capela dos flamengos; Achada do Monte a capela de nossa Sra. do Socorro (calheta); uma freguesia que possuiu uma larga comunidade da diáspora; Em termos de quadros, S. Miguel concorre com o concelho de Santa Catarina e Praia. Tem quadros formados em todas as áreas desde a economia, passando pela medicina, direito, gestão, matemática, histórias, Geografia, etc etc…S. Miguel é terra dos “Rebelados” (cuja verdadeira história deve ser contada), símbolo único da resistência religiosa do país. S. Miguel alberga o parque natural de Serra Malagueta, o único até então mais conhecido da ilha. O concelho de São Miguel possui (segundo censo 2010) 15648 habitantes, sendo que 7025 são homens e 8627 mulheres. A população residente é maioritariamente jovem e a maioria (71,8%) dos habitantes têm menos de 34 anos de idade. A maioria da sua população, cerca de 73% vive no meio rural e apenas 27% no meio urbano. É o quinto município mais povoado entre os 9 de Santiago, com 5,7% da população total da ilha. Perdeu cerca de 1% da sua r população nos últimos anos. É dos municípios da êra da democracia, o mais antigo. No que concerne os indicadores de satisfação de qualidade de vida, um estudo feito em Novembro/ Dezembro[ii] de 2012 indica que os resultados conseguidos pelo Concelho após sua elevação ao município são bastantes favoráveis, embora muita coisa falta fazer: No que toca ao emprego: segundo dados do INE (2011) ultrapassa os 12% da população ativa do concelho, mas este numero quando corrigido com o subemprego e empregos sazonais ultrapassam a cifra dos 17%. Acesso ao trabalho remunerado ainda que esporádico (biscates) 44,6%; Formas de gerar rendimentos por trabalho próprio 45,6%; Acesso ao trabalho remunerado regular (emprego) 37,3%. No que toca ao equipamento social e vida doméstica: Recolha de lixo doméstico (53,2%) dos respondentes avaliaram positivamente o município; Vestuário e calçado básico (indispensável) 60% dos respondentes disseram que não tinham problemas de acesso a vestuários; Alimentos disponíveis, para toda a família, 55,1% dos respondentes consideravam positivamente satisfeitos; Fogão a gás/Elétrico em casa 50,6%; WC/ Casa de banho em casa 51,7%; Frigorífico em casa 48,3%; Eletricidade em Casa 52,2%; Água canalizada em Casa 50,1%; Acesso a Locais de consumo dos produtos que necessita a preços razoáveis 45,2%; Manter/ter uma casa onde morar 40,8%. Emprego: Cuidados de saúde: Acesso a um Médico 50,4%; Acesso a Medicamentos 48,9%; Acesso a exames de saúde 46,8%; Transportes: Acesso a transportes dentro da ilha/município 63,1; Acesso a meio de transporte motorizado próprio 38,4%. A nível de Educação: Acesso a escola primária 64,6%; Acesso a escola Secundária 55,7%; Acesso a jardim-de-infância ou a local onde possa deixar crianças dos 3 aos 6 anos para poder trabalhar 55,9%; Obter material escolar 53%; Acesso a creche ou a local onde possa deixar crianças até 3 anos para poder trabalhar 44%; Locais seguros onde deixar crianças e adolescentes depois das aulas 48%¸ Acesso a Formação Profissional 48%;¸ Acesso à Universidade 34%. A nível de segurança: Caminhar na rua durante o dia em segurança 54,9; Segurança das pessoas dentro de casa 52,5%; Segurança dos bens existentes quando a casa está vazia 50,4%; Na existência de gado manter a Segurança do mesmo 45,6%; Caminhar na rua durante a noite em segurança 50,9. Apoios do Estado/ entidades não-governamentais: Obter ajudas em alimentos/ medicamentos / vestuário etc por entidades não estatais 36,4 %; Obter ajudas em dinheiro por entidades não estatais 35,6%; Obter ajudas em medicamentos por parte do Estado 34,3%; Obter Bolsas de Estudo 32,8%; Obter ajudas em alimentos por parte do Estado 31,0%; Obter ajudas em dinheiro por parte do Estado 33,3%. Esses indicadores suscitam-nos a conclusão de que foi uma grande conquista do povo de S. Miguel a elevação da sua freguesia a categoria de município: pode dizer-se que foi uma decisão que valeu mesmo a pena – podendo dizer-se ainda que pelos indicadores supra-a pontados, que é possível colocar S. Miguel (dos municípios mais novos), entre os municípios com bons indicadores de qualidade vida, onde o objetivo do milénio assumido pelo país possa também ser parcialmente cumpridos, quando comparado com outros municípios, designadamente os da ilha de Santiago, e mais especificamente quando comparado com os municípios de Santiago Norte. Do ponto de vista do posicionamento do concelho de S. Miguel no contexto de desenvolvimento de Santiago-norte, em particular e da ilha de Santiago, em geral, pode-se perguntar, que função lhe está reservada no conjunto dos municípios de Santiago-Norte? Que papel esta reservado a S. Miguel no processo de desenvolvimento de Santiago-Norte e da ilha de Santiago e do país? Estas são questões que, a meu ver, um Fórum desta dimensão deve procurar responder. Questões que devem estar alinhadas com a discussão das grandes questões nacionais, em relação as quais S. Miguel não participar de forma marginal e/ou desinteressada. Que a economia precisa crescer? Que o país precisa combater o desemprego, sobretudo nos segmentos mais jovens da população e que a inovação e o empreendedorismo podem ser o caminho que forneçam pistas e novos impulsos às iniciativas privadas que por, por seu turno, possam contribuir para impulsionar o crescimento e o emprego; Que as barragens de capitação de água tocam no coração dos cabo-verdianos (recriando a nossa cultura agrícola e a nossa relação com as terras) e podem proporcionar mudanças profundas nas relações politicas e sociais no campo, designadamente em Santiago e a nível de S. Miguel, realidade cujo impacto importa estudar e conhecer, pelo que urge desde logo pensarmos na melhor forma de distribuição de água para rega, para que a longo prazo possamos amortizar os investimentos; Que importa integrar os camponeses através de uma nova estratégia e visão de ordenamento do território no meio rural, designadamente em, S. Miguel; Que importa se calhar, aí sim, pensarmos num ordenamento do território com impacto na reorganização do espaço agrário das ilhas e quiçá numa reforma agrária que confere dimensão às pequenas parcelas de explorações agrícolas e que permitam o desenvolvimento das pequenas e médias indústrias derivadas do sector agrícola e áreas conexas, também em S. Miguel como solução de gestão da economia do município após construção das duas barragens. Que a construção das barragens constituem boa linha de infraestruturas para o país e como tal esse esforço deve ser apoiado, para que S. Miguel possa vir a ter as duas, senão três barragens, já que importa concluir a barragens da ribeira de S. Miguel (zona de forno), localizada em casa branca, zona de igreja.



[i] Não me parece que S. Miguel deva deixar morrer o dossier de recuperar parte da sua fronteira à sul, que pertencem hoje ao município de Santa Cruz e creio de Santa Catarina
[ii] Estudo de Caracterização Social e Politica, feita pelo Instituto Superior de Gestão e pela empresa Pitagórica, Estudos e Investigação e Sondagem, SA

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