segunda-feira, 30 de maio de 2011

O jogo das eleições presidenciais

A manter a situação política tal qual ela se nos configura, neste momento, em relação às próximas eleições presidenciais e considerando nulas as possibilidades de o candidato Joaquim Monteiro passar a 2ª volta, podemos afirmar, com algum rigor, de que existem três cenários prováveis, para a compreensão dos resultados possíveis nas eleições de 7 de Agosto: 1º cenário: um dos três candidatos vence logo à primeira volta; 2º cenário: dois dos três candidatos, isto é, um ou outro do PAICV e um do MPD passam à segunda volta; ) cenário: os dois candidatos do PAICV passam à 2ª volta. O primeiro cenário embora provável parece ser de difícil concretização. O 2º cenário é o desejável e de forte probabilidade. Isto é, deveriam passar para a 2º volta um candidato da área do PAICV e um candidato da área do MpD. O 3º cenário a acontecer configuraria uma anormalidade e ameaçava a estabilidade democrática do proprio regime. As últimas sondagens, com Aristides Lima a liderar, dão como certa de que nenhum dos três candidatos se vai eleger logo à primeira volta, a não ser que um dos três desista da corrida, mormente os da area do PAICV. E portanto estas eleições serão resolvidas à 2ª volta. No caso da desistencia de um dos candidatos da area do PAICV, os votos seriam bipolarizados ente Jorge Carlos Fonseca e um dos candidatos do PAICV e as eleições ficariam resolvidas logo à primeira volta. Anormal seria: passarem os dois candidatos do PAICV para a 2ª volta. Alguns analistas consideram mesmo que por uma questão de protecção do sistema político, o MpD tem de fazer pela vida e trabalhar para que o seu candidato passe a 2ª volta. O cenário dos dois candidatos do PAICV passarem a 2ª volta é catastrófico para o MpD. Esse cenário existe, apesar de tudo e é bem real, tendo em conta o tipo de estratégia eleitoral em desenvolvimento não pela liderança do PAICV, mas sim pela sua organização e pelo seu aparelho. O PAICV está a ultrapassar a sua pripria liderança, podendo a sua organização considerar esse debate intenso que ocorre no seu interior, como estrategicamente o melhor caminho para se atinigir os resultados finais e muito profícuo para as presidenciais. O que importa para o PAICV é a ocupação do espaço mediatico, ainda que pisando alguma ética de militancia partidária de paz interior, enquanto partido de poder e estabilidade potencial para o regime. O que está em jogo são eleições presidenciais, por isso o PAICV sonha continuar a governação do país, como fez na última década, com o Presidente da da República, por isso, aplica o principio da «totalidade». Lança para a sociedade a ideia-força de que o debate que ocorre no seu interior é, no plano político, necessariamente, suficiente para a democracia, representativo em termos de pluralidade política necessária a estas eleições presidenciais, logo alternativo ao debate contraditório que, como se esperaria, deveria ser tutelado pelas candidaturas. Com essa estratégia, o PAICV, enquanto organização de poder parece procurar, mais uma vez, seduzir a opinião pública, fidelizando a sua área de influencia eleitoral, ocupando o espaço mediatico (porque toda gente incluindo gente do MPD discute a eventual divisão do PAICV, quiça por causa da cultura de dissidencia intrinsica), visando, nomeadamente, uma síntese para anular as dinâmicas de vitória da única candidatura que é verdadeiramente adversária da sua estratégia e da estratégia dos seus candidatos. O debate interno no PAICV, não vai dividir esse partido. Quem pensar o contrário está a jogar o jogo dos menos incautos e do simplismo. Nem sempre em política o que parece é. E isso poderá ser um desses casos. A verdade é que esse partido parece querer jogar nestas eleições presidências com duas, se não três, cartas, a mesma cartada desenvolvida aquando das eleições legislativas. Pode-se observar que a discussão que se trava no PAICV pretende escrutinar estrategica e contraditoriamente a candidatura adversária de Jorge Carlos Fonseca, pelo que esse candidato apoiado pelo MpD não pode deixar-se intimidar por esse debate, mormente tentar perder tempo a discutir a estratégia do PAICV. Tem que saber envolver o MpD, não apenas uma parte do MpD, mas sim todos. Ademais, deve continuar a sua caminhada procurando, em primeiro lugar, juntar todo o eleitorado do MpD, na medida em que isso chegaria-lhe para passar a 2ª volta. O cenário de Jorge Carlos Fonseca e Aristides Lima passarem à 2ª volta é aquele que é o mais convém e que todos esperamos venha acontecer. Mas para isso, importa trabalhar. E se assim for as coisas podem ser facilitadas a Jorge Carlos Fonseca? A grande questão é saber até que ponto se pode jogar a influência dos partidos nessa primeira volta?.., sendo certo que, como é expectável, na 2ª volta, a influencia dos partidos pode vir a ser reduzida. A hipótese de Jorge Carlos Fonseca e Aristides Lima irem à 2ª volta pode, ainda, ser influenciada pelo eventual interesse indirecto do actual presidente da República nestas eleições. O interesse de Pedro Pires no jogo das presidenciais deve ser visto como estratégico e pode fazer toda diferença, podendo transformar cenários improváveis em prováveis. Apesar de em democracia não se assiste a um Presidente da República o mandato democrático de se despedir do eleitorado, esse acto político aberto do Presidente da República pode ser lido e compreendido como uma forma de pressão para que a disputa interna no PAICV seja resolvida, o mais urgentemente possível, porquanto tal disputa se afigura disperdício de energia, por que circunscrita e tacticamente inútil. Só existe porque o lado contrario está a permiti-la, pois tratase de guerra entre jogadores da mesma equipa que, querem disputar o golo, mas no final do jogo, contados os golos marcados, serão, sempre, forçados a festejar a vitória como sendo vitória de toda equipa. Ganha Aristides Lima ou Manuel Inocêncio, ganhou o PAICV e ponto final. Tanto os dirigentes do PAICV, como o próprio Presidente da República, já compreenderam a importância destas eleições presidenciais para o futuro desse partido, ao que os dirigentes do MPD deveriam ter também uma compreensão correspondente e, em consequencia disso, postularem por uma contratualização politica e eleitoral estratégica explícita entre MPD e Jorge Carlos Fonseca, não apenas com uma parcela do MpD, traduzida na assumpção plena de uma consciência esclarecida de vitória e de futuro, que decorre da importância política destas eleições presidenciais para o MpD e das consequências programáticas daí advenientes e assim aproveitar o seu balanço para recuperarmos a força centrípeta do MpD, designadamente apontando para as eleições autárquicas de 2012.

1 comentário:

E Semedo disse...

Cara patrício
Li com muita atenção o seu artigo que apresenta uma certa lógica e coerência, isso porque, as leituras podem e devem ser várias enquanto não dizem nada os que detêm as verdades ou as intenções. De todo o modo, posso dizer que o candidato pior posicionado é o MI. Não é candidato natural da sociedade. É uma verdade e que se diga. Por isso, há essa grande probabilidade de haver o segundo embate, entre o JCF e o AL. É essa a tendencia. Já comentei sempre que uma decisão no primeiro embate seria uma coisa muito anómola e de muita gravidade. Contando para o segundo embate, o JCF e o AL, como fazer o diagnóstico? Infelizmente até esta parte de cada 100 potenciais eleitores, o JCF só consegue arrebatar menos de 30 votos. A situação está muito mais definida no seio do MpD e por isso em situações normais teria de haver mais de 40 por cada 100. A ver vamos. Sociologicamente, a sociedade cv tem 50% do MpD e 50% do PAICV. É muito assintomático a posição do JCF. Isso quer dizer que na segunda volta não vai conseguir «roubar» muitos votos e atingir pelo menos os 45 de cada 100 votos. Vai haver muita abstenção. Não há elementos para inverter a tendencia. Porém, para o PAICV, há mais probabilidade dessa união que já referiu. A meu ver, fizeste uma boa leitura. O importante é a equipa marcar golos. Considerando o gravíssimo erro cometido pelo JMN, o MpD tem a oportunidade de lhe apertar o pescoço até onde for possível. Em resumo, para além da provável abstenção, o AL está em condições de receber mais votos do MpD do que o MI. Aqui conta tudo, o MpD tem essa oportunidade de fragilizar o JMN ainda que a equipa marque golo mas o seu actual dirigente já está na lista negra. Cá para com os meus botões, o AL continua a ter a melhor chance. O MpD tem de tirar outros gatinhos da cartola porque os ratos do PAICV já dja sta toma konta di tchada. Entretanto, concordo parcialmente consigo dizendo que o PAICV pode sair muito mais reforçado depois dessa tempestade. É normal em democracia e o povo sempre agradece. Isso irá acontecer seja com a manutenção da liderança do JMN (e vai deixar de haver ditaduras)ou seja ainda com a mudança da liderança. É um problema interno do partido que será resolvido democraticamente. O que me preocupa é saber o que vai na alma dos MpDistas. Cabo Verde precisa de estabilidade política interna de cada partido. Estabilidade política não implica una voz das correntes. Estas têm de ser sempre contraditórias e vigilantes e só assim poderá um partido ter sempre alternativas internas. Para terminar, uma coisa é certa, a presença do AL é um ganho na democracia. As pessoas têm de entender e os partidos políticos têm de aceitar com normalidade que pode haver 1, 10, 30 ou 50 candidatos presidenciais. É normal e bom para a nossa democracia. As tais primárias foram introduzidas para que com ética, com democracia e com transparência haja um processo de selecção/eleição gradual dos candidatos. Estamos a ganhar uma terceira liberdade. Muito obrigado pela oportunidade.
ESemedo