segunda-feira, 6 de junho de 2011

As legislativas em Portugal

O PSD e CDS-PP foram os dois partidos vencedores das eleições legislativas de ontem, domingo, 5 de Outubro. Num momento de crise, o eleitorado português votou, maioritariamente, nos sociais-democratas e democratas cristãos, conferindo-lhes a possibilidade de formação de um governo de coligação à direita. O sistema partidário português, à semelhança de outros sistemas partidários estáveis na Europa e no mundo, utiliza o movimento pendular dos eleitores flutuantes para conferir maiorias absolutas a este ou aquele partido, neste ou naquele sentido, neste ou naquele momento histórico. O quadro partidário português por que estável e constituído por PSD, PS, CDS-PP, PCP-CDU-PEV, BE permite debater propostas e facilita a escolha democrática. Quando o PSD cresce em direcção ao centro, por efeito de arrastamento, cresce, também, o CDS-PP e quando o PS cresce, crescem os partidos à sua esquerda, designadamente PCP-CDU-PEV e BE. Pode dizer-se que, em Portugal, quando a esquerda perde, resiste o partido que mais conserva os valores de esquerda e nesse caso resistiu o PCP que é chefe de fila da coligação PCP-CDU-PEV. E o mesmo sucedeu em relação ao CDS- PP quando o PSD não conseguiu, nas eleições passadas, cumprir os objectivos a que se propunha. Existe já uma cultura política em Portugal que se pode resumir no seguinte. Quando se constituem governos à direita a tendência é para coligação entre PSD e CDS-PP. Pedro Passos Coelho é próximo Primeiro-ministro de Portugal. É prova viva da determinação e da forma como se deve entrar em campanha eleitoral, para ganhar. Conservou os valores fundiários do PSD. Trabalhou a unidade do partido e projectou uma nova visão de futuro dentro do seu próprio partido, trabalhando os principais factores críticos de liderança que caracterizam as lideranças no PSD. Em vez de apelar gratuitamente à unidade dos militantes, procurou enquadra-los criando espaços no partido, para a sua expressão. Gerou confiança, em primeiro lugar, entre os militantes do PSD, pois o líder que pretende ganhar eleições, nunca despreza a contribuição dos militantes e nem procura substitui-los por membros estranhos ao partido, porque os militantes dão ao partido consistência de máquina. O primeiro truque está na mobilização dessa maquina. Pedro Passos Coelho ganhou porque desde o seu livro “mudar” postulou uma visão e formas de lideranças próprias, tendo mostrado caminho de regresso ao poder, ao PSD e essa estrategia permitiu mobilização dos militantes. De forma perseverante inaugurou um estilo de liderança no PSD, tendo sido capaz de unir os militantes, gerando confiança e unindo portugueses, formando-se, paulatinamente, como alternativas ao PS de José Sócrates. Foi capaz de construir essa alternativa e aí está, o PSD lidera, nos próximos quatro anos, o próximo governo de Portugal. Foi uma vitória bem conquistada. José Sócrates saiu da liderança do PS. Retira-se de cena porque, conforme o próprio afirmou, quer dar um novo espaço a um novo protagonista interno no PS. Perdeu, mais sai com muita dignidade política da liderança do PS. Soube interpretar os resultados destas eleições legislativas. Os portugueses não o quiseram no governo e, como tal, sendo ele Primeiro-ministro de Portugal, por que líder do PS, não fazia sentido continuar na sua liderança. Assim aconteceu. Logo no seu discurso da noite, soube concluir que se fechou um ciclo político. Que se abreria, na sua perspectiva, um novo ciclo político, onde ele não poderia continuar na posição de líder do PS e, como tal, demitiu-se do cargo de líder, tendo passado à condição de militante de base. A responsabilidade política assim o exigiria. Nas democracias, as derrotas eleitorais nunca são desonrosas, porque fazem parte do jogo democrático. Ainda assim, quando se perdem eleições, o líder (ou lideres derrotados) deve (ou devem) pôr o cargo à disposição, demitindo-se da liderança de modo a libertar o partido de um eventual “estado vegetativo” imposto, muitas vezes, pelas natureza da derrota eleitoral, mormente se aportam variáveis de dimensão qualitativa. A rotação nas lideranças dos partidos, por causa de resultados das eleições, é caldo de cultura em democracia, porque permite libertar as energias futuras e, sobretudo, dar a ideia de que nas sociedades não existem homens insubstituíveis. A bem da democracia.

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