terça-feira, 17 de novembro de 2009

O processo Cabo-verdiano

O processo Cabo-verdiano

A pergunta é, no plano de pensamento, recorrente e complexa. É de resto filosófico. Respondendo que sim, e que existe um processo cabo-verdiano que do ponto de vista cultura é autentico e autónomo, importa registar que foi esse processo que esteve na base da formação de Cabo Verde, hoje país independente a comemorar três décadas, como consequência geral desse processo cabo-verdiano.

Hoje existe um pais, que há 34 anos não existia, consequencia da progressiva afirmação desse genuino processo de caboverdianidade ou de caboverdianização, ao longo da história, que conferiu, alias, uma sistemática geral propria à cultura cabo-verdiana, atribuindo-lhe uma identidade fundiaria. Pode-se ainda perguntar: admitindo que existe um processo cabo-verdiano de caboverdianização, quando é que ele começou a exprimir-se?

Cabo Verde é também resultado da simbiose cognoscivel crescente (sintetizada), complexa. A nossa realidade social e cultural é binominal, sendo prova acabada de aquilo a que se possa designar -, o já de si longo -,“processo cabo – verdiano”.

E portanto, desse ponto de vista, responderia que sim: existe um processo cabo-verdiano, pois há um espaço antropológico, sociológico, politico e cultural próprio integrado, atraves do qual se exprime a cabo-verdianização, assumido de forma dialética pelos cabo-verdianos no seu todo, que integra e faz emergir o Cabo-verdiano, a sua nacionalidade, conferindo-lhe vinculo identitário especifico, representando o traço e expressão genuino desse processo, não só a nível das ilhas, mas em outras áreas geográficas que permitam a expressão dessa cultura cabo-verdiana e logo do seu processo.

O processo cabo-verdiano pode ainda ser constatado no reflexo individual de cada um de nós, e na ausencia da consciencia da ideia de grupo. O Cabo-verdiano é individualmente forte e colectivamente fraco. Fomos treinados, enquanto ser individual e divididos enquanto ser sociavel e ao longo dos tempos nunca ninguém se preocupou em identificar as fraquezas e as forças dessa en entidade autónoma que o Cabo-verdiano. Limitamo-nos a constatar. Não apreendemos a ideia do colectivo, mas parece que quando medido em cada um de nós, esse Cabo Verde é forte porque individual.

Acresce-se que ao longo de três décadas e nos anos que antecederam a independência, o Cabo-verdiano procurou vencer as debilidades que a natureza se lhe impunha, o que coloca esse processo cabo-verdiano numa posição de negação do dito «dilema metafisico difuso da cabo-verdianidade», enquanto destino pre definido.

Esse dilema, apesar de tudo, integra de forma deterministica as diferentes formas de instabilidades da nossa ideosincrasia geral, enfrentando diversos micro processos que caracteriza cada um de nós de forma particular, perante uma série de desafios que deveriam permitir procurar identificar os verdadeiros elementos comunitários e suas mais valias, por um lado, e que caracterizam a nossa resiliência em face da necessidade de controlo das diferentes emoções, mutações e provações conhecidas e, por outro lado, a sua ideologia, ou seja as diferentes formas de agir sobre a forma do nosso “ser” e de nosso “estar”. No fundo a sua dialéctica; o seu espírito maior: o traço característico dessa resiliência que se traduz na resistência do seu povo e no carácter pragmática dos seus cidadãos, que mesmo perante dificuldades têm sabido enfrentar os desafios e vence-los.

Essas resistências e resiliências fizeram com que a Nação cabo-verdiana não tivesse dúvidas quanto ao percurso a fazer, procurando no seu individuo ultrapassar as dificuldades desse mesmo percurso, o que, em tese, implicaria dizer que existe um modelo cultural acumulado que representa e traduza de modo fiel a realidade desse “processo cabo-verdiano”. Mas a verdade é que esse processo não esta plenamente representado em um modelo quantitativo: como tal as nossas crises, as nossas resistências e as nossas resiliências surjem, as vezes, agravados, por causa do facto de não registarmos todos os factos históricos gerados por esse processo cabo-verdiano, o que limita a nossa aprendizagem, tanto em relação aos erros cometidos, como em relação aos conhecimentos produzidos ao longo da histórias, ficando sem conhecermos as suas sistemáticas.

Em Julho de 2010, Cabo Verde vai comemorar 35 anos de independência: em relação a esses 35 anos de independência, uns dirão que representam um caminho e que representam em certa medida o modelo possível e que esse modelo teve grandes resultados e estão aí; outros acharão que não existiu nenhum modelo, quando analisado na perspectiva de desenvolvimento coerente, estável e sustentável a médio e longo prazo; outros ainda considerarão que o que existe é uma tal realidade cognitiva pragmática, de tal sorte que requer hoje a revisão nos seus aspectos de base; outros ainda pensarão que, não tendo sido possível conhecer logo à partida os elementos que determinaram a completude desse processo cabo-verdiano, sua natureza, profundidade e extensão, importa, por e simplesmente, introduzir elementos de reforma dos diversos comandos constitucionais, alinhando-os, não com a ideologia unitária que determinaram, no inicio, a formação desses comandos - mas sim - com a ideologia plural que decorre da realidade complexa desse mesmo processo histórico, facilitando a construção de um modelo.

Assumir que existe um processo cabo-verdiano, permitir-nos-á fazer balanço, pois o país vem pagando o custo da falência de uma visão unilateral, que vem desde 1975, portanto visão que está completamente esgotado. Por exemplo, podemos recorrer ao OGE/2010, o facto do deficit publico projectado para 2010, atingir 12%, com o governo a assumir o seu financiamento, através de empréstimos concessionais, deixando uma factura elevada as próximas gerações. Hoje por cada 100 jovens, 46 estão desempregados e não se sabe como é que um jovem desempregado hoje possa assumir responsabilidades futuras de amortização de dívidas, já que não se lhe reconhecer qualquer processo de acumulação por causa do desemprego, parecendo que o próprio governo terá “deitado a toalha ao chão” em relação ao cumprimento das grandes metas de legislatura: redução da taxa de desemprego para níveis de 1 dígito em consequência de um crescimento económico acelerado de 2 dígito. Concomitantemente, o país vive os custos da não conclusão das reformas fundamentais iniciadas na década de 90, remetendo para a necessidade fundamental de os compromissos que emergirão das plataformas eleitorais para a próxima legislatura corporizarem claramente as reformas que são hoje inadiáveis para o desenvolvimento de Cabo Verde.

Desde logo, a próxima legislatura deve ser a legislatura da regionalização, em que é conferida a cada ilha um sistema de governo, com a missão de endogeneização do seu processo de desenvolvimento; deve ser ainda a legislatura das reformas constitucionais, designadamente quanto à necessidade de se definir o modelo económico que norteie o desenvolvimento do pais; deve ser a legislatura da reforma do Parlamento, através do qual se reforce o papel do Parlamento e se qualifique o regime de representação, podendo ser com duas câmaras, a câmara alta e a câmara baixa e um novo sistema de governo: só através dessas reformas, poderemos minimizar os custos da insularidade, e melhoramos o “rating” da República e estabilizar o processo cabo-verdiano, título deste artigo.

Os custos da não reforma tendem a ser elevados para as próximas gerações, tornando Cabo Verde em um país eternamente vulnerável e os Cabo-verdianos frágeis elementos de uma Nação cujo processo se caracteriza por uma profunda instabilidade do ponto de vista da ratio cultural de base que determina a sua felicidade geral, por um lado e por outro lado, condiciona a confiança necessária, indispensável ao processo de desenvolvimento, que se pretende coerente, harmonioso e equilibrado do seu território, em prol também da felicidade geral endógena e integrada do seu povo e da sua Nação.

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