quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O dia seguinte à moção

Cabo Verde, país que o mundo quer que seja o melhor entre os piores, a influencia externa joga o seu reverendíssimo papel. Ajuda a fixar a ideia de que a consciência de quem manda depende das influências externas. Corresmos o risco de em certa medida os resultados eleitorais estarem na dependência da vontade externa dos principais parceiros internacionais e as vezes de parceiros privados.

Por conseguinte, o Governo requereu e viu renovada a confiança do Parlamento, por parte da maioria que o sustenta, através da apresentação, debate e votação pela plenária da Assembleia da moção de confiança. Uma moção, há que dize-lo, que teve como principal objectivo a necessidade de se dar respostas a um conjunto de questões suscitadas pela oposição.

Na semana em que seguiu a aprovação da moção, o INE publicou os dados sobre a pobreza, numa de produzir mensagens para o exterior, em apresentações inéditas suportadas politicamente pelo Governo, dizendo que a pobreza teria reduzido em 10 pontos percentuais, não questionando, porém que essa redução, se projectado ao longo dos 8 anos de governo do Paicv, fica aquém dos resultados.

Após a moção, à semelhança do que acontera em 2004, depois da retumbante vitória autárquica do MpD, observaram-se movimentações de chancelarias e instituições internacionais, numa de fechar o cerco à oposição (numa de produção de porosidade diplomática), naquilo que se pode considerar cumplicidade externa explicita tangível em socorro do Governo.

Importaria aqui esclarecer o seguinte: os questionamentos feitos pelo MpD na Assembleia Nacional são legítimos e tem fundamentos. Politicamente o MpD deveria apenas ter indícios de prova que gera o facto político, cabendo, naturalmente aos tribunais a produção da verdade num ou noutro sentido. Deve, no entanto, faze-lo com sentido de responsabilidade e elevado sentido de Estado. A política e a democracia devem assim serem exercidas, com total soberania popular e sem interferências externa. São óbvias questões de politica interna, embora com ligações externas, sim, mas que na condição democrática e constitucional do pais, resulta das consequências de governação de Cabo Verde e cabe ao governo responder os questionamentos da oposição.


Em Africa, a grande maioria dos países perde a consciência do seu próprio povo. São assombrosamente afrontados, as vezes, por gente, recrutada em países, sem tradição de liberdade e de democracia, mas que em Africa, trazem a escola toda, agindo, de forma rancorosa contra a própria liberdade e democracia nos países de acreditação, destorcendo a cultura institucional desses país. Em Cabo Verde corremos o mesmo risco. Aqui, como na maioria dos países africanos, pretende-se que a democracia seja uma democracia de mínimos. Isto é que a democracia seja fingidamente alimento de um tipo de poder exercido como se de um regime de partido único se tratasse, portanto, semelhante ao regime de partido único que é tolerado pela comunidade internacional e que os Partidos políticos de oposição sejam parte desse poder.

Desde que se façam eleições e que a comunidade internacional for dizendo que as eleições forma justas e livres, não importa. O poder nesses países ganha carta branca e pode ser exercido de qualquer forma, que a comunidade internacional tolera. A oposição deve ser de “cochicho”, de “pé de orelha”, baixinho e cúmplice com o poder, mesmo em situação de corrupção. Naturalmente, o Governo usa esse instrumento na sua comunicação política, que não é dirigida aos Cabo-verdianos, mas basicamente para se armar de vítima e mobilizar as chancelarias acreditadas no pais e têm-no conseguido.

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