sábado, 6 de janeiro de 2007

O mundo enfrenta um novo tempo, onde as incertezas tendem a aumentar.

Continuação da II Parte: O mundo enfrenta um novo tempo, onde as incertezas tendem a aumentar.

O mundo enfrenta um novo tempo, onde as incertezas tendem a aumentar. O Povo continua a emigrar para destinos incertos, pois entende que não realiza as suas expectativas ficando no País. Não se estando a administrar nenhuma política para inverter a situação (que tem, de todo, implicações profundas do ponto de vista demográfico, como demonstrado no intróito da presente recensão), porque não existe consciência plena do fenómeno ou porque ainda persiste a ideia errada de que, sempre que sair um cabo-verdiano, o País sai a ganhar, o Estado numa cumplicidade relacional com a sociedade permite que os cabo-verdianos emigrem, muitas vezes, de forma “corrompida” e de forma aventureira para destinos completamente incertos. Como fica demonstrado, o País sai a perder quando um cidadão decide emigrar, sobretudo se o fizer de forma aventureira e sem nenhum tipo de enquadramento profissional contemporaneamente estabelecido e que o aguarde no País de acolhimento.

O artigo deveria discutir "a Nação Cabo-verdiana, a Emigração e a Responsabilidade do Estado", pois nele se reafirma-se que na verdade o País sai a perder quando um cidadão decide emigrar. Estamos a falar de perdas socio-económicas, culturais e demográficas relevantes, que carecem de medição e que reclamam por uma maior responsabilidades do Estado. Acrescem-se que o debate deveria repousar-se na análise dos custos económicos da decisão de emigrar e das suas consequências no conjunto das famílias cabo-verdianas e para o Pais, num cenário de contrapartidas económicas que isso representa.

Desde logo, (i) Na maioria dos casos, quem emigra, de forma voluntária, contrai uma dívida também voluntaria, a montante ou a jusante, muitas vezes exagerada, para adquirir o título de transportes incluindo os custos directos e indirectos do pedido de vistos e de toda papelada (c/ pagamentos indevidos), sem contar com o processo de acolhimento e de instalação que na maioria dos casos não coincidem com as expectativas inicialmente formuladas; (ii) O cidadão que decide emigrar deixa o seu agregado familiar. E se for um chefe de família transfere a educação dos filhos para a mãe (com todos os custos que isso representa), se o não for deixa um vazio junto da sua família em vários aspectos - as vezes é o membro da família mais activo que detém sobre os seus ombros a responsabilidade de sustentar a família - aquele que trabalha no emprego para o sustento da família; as vezes, é aquele que recebeu mais investimentos da família em termos educacionais e alguma formação profissional e logo o mais empreendedor. Portanto, a família perde um dos seus activos, muitas vezes, aquele no qual mais se investiu, mas também perde um dos seus agregados económicos de maior valia.

O somatório de todas as famílias com membros que se emigraram nestas condições perfazem um importante número de famílias cabo-verdianas, que por seu turno acumulam custos socio-económicos significativos. (iii) Em terceiro lugar, aquela família directa e o País indirectamente deixam de poder contar durante um certo tempo ou definitivamente com aquele cidadão (existe um período de graça que normalmente se concede ao emigrante, que coincide presumivelmente com o período de instalação no País de acolhimento) e se tudo correr bem, haverá uma correspondência que tendera na proporção do esforço socio-económico realizado pela família com a sua saída, que nos primeiros tempos é cumprido de forma escrupuloso; Dependendo do sucesso e/ou de insucesso desse emigrante esse período é aumentado e nasce aí um vinculo renovado com a família, de contrário simplesmente desaparece, já que desaparece também a possibilidade de honrar os compromissos inicialmente assumidos na origem - com o consequente risco de desvinculação ou ruptura, provocado, alias, por uma censura familiar, que dificilmente aceita como natural o facto do emigrante não ter sido bem sucedido na emigração; (iv) Quando um cidadão emigra do País, o seu espaço social, cultural e sobretudo o seu espaço socio-económico dificilmente é preenchido.

Ocorre com esse cidadão o que os sociólogos chamam de mobilidade horizontal, isto é o seu estatuto perante a família altera-se dentro da própria família. Se ele for bem sucedido na emigração esse estatuto altera-se para melhor e se não for bem sucedido o seu estatuto altera-se para pior e as vezes ocorre a ruptura final. Estas questões teriam menor possibilidades de ocorrência se o cidadão permanecesse no Pais ou se emigrasse num quadro de maior planeamento do Estado, já que a emigração permanece como uma das alternativas económicas do Pais a que o cidadão mais se recorre, clamando por essa responsabilidade do Estado.

Contrariar o fenómeno da emigração implica acreditar na “democracia do nosso modo de vida”, demonstrá-la, construí-la e resgatá-la todos os dias, como fonte de inspiração de todas as liberdades civis, políticas, económicas e culturais sonhadas para a Nação cabo-verdiana, e responsabilizar a sociedade e o Estado pelo fenómeno. Acreditando nas mudanças que importa imprimir ao País, podemos, com esforço, sim, devolver a ambição às pessoas; a crença de que é bom e vale a pena ser cabo-verdiano e viver em Cabo Verde; a esperança de que em Cabo Verde é também possível construir as suas vidas.

Apesar do País ser pequeno e com parcos recursos, podemos dizer aos nossos conterrâneos que Cabo Verde possui, na verdade, uma posição geo-estratégica no Atlântico Médio relevante, e tirando partido dessa “posição geo-estratégica”, pode, investindo na força de uma visão personalista de Estado (em que o homem se coloca no centro de tudo), inverter fenómenos que, ao longo de séculos, têm delapidado demograficamente a nossa terra: há que levar o País a assumir que na base da emigração cabo-verdiana existe um “voluntarismo individual” e uma decisão económica explícita que urge, do ponto de vista político, regular porque tendo custos sociais, económicos, políticos e culturais extremamente elevados para o País.

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