quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A PROVA DO GOVERNO!

O ambiente económico e empresarial em Cabo Verde é caracterizado por incertezas. O governo enfrenta o desgaste de estar em final de mandato e em final de legislatura. Um governo que acumula largos sinais de insucesso em matéria de politica económica, designadamente quanto à dinamização do sector empresarial privado em Cabo Verde. O ambiente geral reflecte essa realidade, isto é a falha de concretização de um conjunto de opções políticas (in programa do governo:2006-2011), onde se pode dar como exemplos as falhas de sucessos dos negócios nos domínios da imobiliária turística.

O governo vive o dilema de ter de se apresentar prova do que se propôs fazer, com as realizações, já que está em final de mandatos. Por mais que não se queira exigir realizações e fazer balanços, a verdade é que o clima economico e empresarial é de frustração dos agentes económicos, provocado por uma quebra abrupta de expectativas, induzido pela crise financeira internacional e por causa dos efeitos directos da quebra no investimento directo estrangeiro e minado pelo esgotamento de uma visão. I.e.., podendo dizer-se que chegou o fim do modelo de financiamento uni direccional do processo de desenvolvimento da economia exacerbada mente utilizado pelo governo, orientação que vem na sequência da baixa capacidade de incrementação da poupança bruta interna das famílias e das empresas e numa elevada capacidade do Estado em mobilizar fluxos externos, perante agravamento das desigualdades sociais.

Dizendo que assumiu o céu como limite, o Governo tropeça-se numa altura que mal chega ao meio das nossas soberbas montanhas, portanto há anos luz do limite inferior exigível para se atingir esse céu, incorrendo-se no risco de se esgotar nas nossas ribeiras, esgotando as possibilidades externas em matérias de credibilidade, nomeadamente em relação à nossa capacidade geral de mobilização de novas fontes de financiamento. Esse modelo de desenvolvimento, muito defendido pelo governo, é rainha das desigualdades sociais, do trabalho mal remunerado (mau grado a adopção do salário mínimo nacional), do desemprego elevado (taxa superior a 21% da população activa), sendo que mais de 46% na juventude.

É também indutor de um Estado gordo que teima em adiar o impacto da dívida pública sobre o orçamento e perante um deficit orçamental elevado a situar-se nos 12% do PIB, e na falência técnica de algumas empresas públicas. Observa-se que o ambiente económico e empresarial é então de contracção e de provável recessão no sector de turismo, em consequência da crise aberta no mundo da «imobiliária turística», motor do crescimento escolhido pelo governo.

Não chega o discurso do pais blindado, pois a realidade toca-nos todos os dias. Esse discurso é ilusório, pois não se deve nunca pagar dívida com recurso a empréstimos, nem a nível de uma família, sem se incorrer no risco de resultados, sendo no mínimo duvidoso dizer-se que esta solução é do ponto de vista da politica económica a melhor saída, não chegando, para o efeito e como consolo, a solícita opinião favorável do FMI. A agravar a situação vem o cansaço do governo, que acusou já o toque da inevitabilidade de alternância democrática, assumindo-se como estando no seu ponto crítico mais baixo de prestação política. Esse ponto baixo permite concluir que definitivamente o pais testa um ambiente político de fim de legislatura e de pré campanha eleitoral, com o governo muito preocupado em não perder as próximas eleições, laborando num quadro de não cumprimento de metas, encimado por um orçamento de 2010 expansionista e eleitoralista.

O governo deixou de estar preocupado com o cumprimento do seu programa, mas sim apenas e tão só preocupado em desenvolver acções políticas adentro do OGE que o projecta para fora junto do eleitorado e para ver se ainda vai a tempo de recuperar terrenos, ainda que em consequência dessa estratégia, endivide o pais e faça implodir os principais ratios de equilíbrio macro económico. A situação é de tal ordem preocupante que mesmo perante a epidemia de dengue em que estaria em causa a vida dos Cabo-verdianos, o governo não se poupou no esforço de ter tentar ver nos outros a culpa para a epidemia, acusando os municípios de responsabilidades de não fazerem o saneamento básico e reunindo representando externos acreditado no país, para dizer dar notas: ou seja nós, o Governo, cumprimos a nossa responsabilidade; o ministério de saúde esteve bem, mas as Câmaras Municipais, não!.. e o mais grave é que esses representantes deixam-se anestesiar com a ideia de bom governo e deixam-se arrastar pela campanha politica partidária do Governo contra os municípios.

Como se sabe, a inflação projectada para 2010 percorre uma linha decrescente, comprovando, por um lado, a debilidade do poder de compra das famílias, por causa do desemprego e pelos efeitos indirectos da pobreza relativa e absoluta que grassam no pais e, por outro lado, pelo facto de, se calhar, as famílias estão a adiar as suas opções de compra ou simplesmente não têm disponibilidade para financiar o consumo, sendo, então, por isso, certo, a justificação para um crescimento da economia em 2010 previsto para 3,6%. Esse crescimento toca o limiar do «crescimento natural», pois é induzido pelo trinómio: remessas dos emigrantes, ajuda orçamental pública e pelos empréstimos concessionais, em nome do processo de “transformação de Cabo Verde” onde lidera o investimento público, que não induzindo nenhum efeito especifico sobre a economia, nunca permitiu o desenvolvimento de um empresariado nacional forte capaz de aumentar a competitividade externa do pais.

Insistindo no erro em dizer que o deficit orçamental, conjugado com a divida pública elevadíssima, não terá efeitos a longo prazo na estabilidade cambial, dentro de poucos anos Cabo Verde conhecerá o limite de endividamento, com todas as consequências, designadamente na redução da taxa de cobertura das exportações e no próprio acordo de paridade «peg fixo» com o euro. Torna-se evidente que não podendo ninguém afirmar de forma categórica o que poderá vir a acontecer no futuro, não pode pensar este governo que o facto de não se adivinhar aquilo que pode vir a acontecer no futuro, não significa que o governo deve, de forma ostensiva, não arrepiar caminhos e deixar tudo como está. Insistir no erro, em tapar o sol com a peneira, torna as coisas mais difíceis. Basta olharmos para OGE 2010, prova mais acabada da existência de uma rotura na política económica do governo, que representa, também, uma falência do modelo seguido.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Notas soltas: a crise financeira, a caixa de pandora

O mundo acordou em 2009 sob espectro da crise financeira internacional. Esse mesmo mundo acordou em 2009 perante anúncio de crise nos mercados financeiros, com economias, sociedades, países e Estados em forte pressão, perante uma ameaça global, que pôs países em risco de "banca-rota", com bancos e empresas a fecharem portas. Com o risco da inflação registar valores negativos em alguns países, a nível da União Europeia e com o desemprego a subir: cita-se, por exemplo, o caso da Finlândia e da prpria Espanha: exemplos paradigmático.

Esses países entraram em ruptura financeira, tendo requerido, à semelhança do que acontece nos países subdesenvolvidos, intervenção do FMI e Banco Mundial. A banca projectou para as diferentes economias quebras generalizadas de expectativas e de confianças entre si e ao nível das suas relações com os clientes, com as empresas e com as familias.Amplamente divulgada pela comunicação social, a crise que começou nos Estados Unidos rapidamente se alastrou pela Europa.

Liderada pela subprime em consequência da acumulação dos derivados tóxicos ou podres, conforme o designa Fernando Henriques Cardoso ou como a caracteriza Stligtz, esta crise ficou também marcada pela quebra de valores da integridade e da ética, pela ausência de carácter dos alavancadores de capitais, e muitas vezes minada pela crise dos próprios lideres políticos que acreditavam piamente que a energia bolsista representavam de per si um sistema seguro de distribuição de capitais, que só por si trazia vantagens e chegava para corrigir as desigualdades de oportunidades no acesso aos capitais e no acesso os bens e serviços por parte dos cidadãos e resolver os múltiplos problemas da distribuição de riqueza.

A crença pura e simples no mercado de capitais, sem razão da sociedade no seu conjunto, fez com que analistas de estratégias considerassem que a crise de subprime, sendo passageira, configuraria, também, em uma crise de liderança e de “posticipação de futuros”, a crise de raiz quadrada invertida como a classificou Stligtz: Isto é uma crise que aszsenta no pós pagamento de futuros – que encerra o complexo regime da colocação posicional dos capitais e dos seus efeitos num momento que algures se situa no horizonte temporal de longo prazo, portanto invisivel aos olhos comuns dos cidadãos e das empresas, momento que se realiza depois do futuro das expecatatuvas dos mercados, dos Estados nacionais, designadamente as que decorrem das suas reponsabilidades sociais com os cidadãos, com as familias.

Esse pagamento do pós-futuros configurou-se em uma linha especulativa cujo limite se desconhecia, e veio a confirmar a forma critica como se organizam as instituições dos Estados nacionais. A crise financeira que acabou por agravar a crise económica, com elevadas taxas de desemprego na Europa e nos Estados Unidos, permitiu a germinação de uma nova forma de poder exigido quase pelo mundo inteiro: "A regulação" ou o "poder da regulação". Se antes os Estados nacionais, a maioria deles, se organizavam pelos principios de laicidade e de separação de poderes, entre: poderes legislativos, executivos e judiciais, a crise financeira incorporou um efectivo quarto elemento hodiernamente fundamental que é "regulação", pedido quase em todos os furuns internacionais de dimensão global e por uma larga maioria de lideres mundiais. A crise despoletou quando se tomou conhecimento do monstro. Diria de uma especia do elefante do deserto que se quedou sobre as suas próprias patas. Tão-somente isso: os derivados, por que correm em cima do limite do risco, transportam uma imensidão de variaveis inequacionável e desconhecidas, as quais permitem de forma ilusória demonstrar que se estará a distribuir beneficios, sobretudo a redistribui-los para o segmento mais pobre da sociedade, que anseia de forma legitima por acumular bens e riqueza, quando na pratica o que se estaria a distribuir eram "riscos absolutos" isto é o investimento apresentava risco encavalitados que chegam a ultrapassar os 100%, embora jamais ninguém tinha explicado a forma como esses riscos se distribuiram perante um cenário de catastofre; daí que assim que se tornaram conhecidos esses riscos, foi como se fosse aberta uma caixa de pandora. Preferiu-se mais uma vez construir um discurso sobre a confiança entre agentes econónomicos, sobretudo entre os bancos, quando a questão é bem mais grava. Stiglitz explica num brilhante discurso sobre esta crise financeira, que se tratava de uma crise que se explicaria por uma especie da raiz quadrada invertida; que o capital fugia pelo topo da pirâmide, esvasiando a relação inicial estabelecida na base da piramida entre o primeiro bem adquirido e directamente financiado pelo banco, o seu primeiro e último proprietário desse bem.

A crise financeira trouxe enormes desafios concernentes à velha equação: "produção, circulação e distritruibuição e questiona de forma profunda ás instituições e os Estados nacionais. A crise recolou nos debates as ideologias que muitos diziam estar morta. Como dizia António Guteres, actual ACNUR, das Nações Unidos: "se os Ricos não tomarem conta dos pobres, assumindo que o fenómeno da pobreza é também consequencia do processo unidireccional de acumulação da riqueza, em resultado da má distribuição desta e (e das oportunidades de acesso à riqueza) e os pobres, porque são pobres e não são portadores nem de educação que lhes permitam galgar novos caminhos, nem da formação, informação e conhecimento que lhes permitam detectar as oportunidades, não conseguindo aproveitar as aportunidades que se lhes ocorrem", podem um dia tomar conta do ricos". A abordagem de Guteres recoloca o debate ideologico. O problema parece ser muito mais denso e complexo e assumindo a sua dimensão ideologica, coloca de forma densificada a problemática da ética; a razão da riqueza, do individuo e da sociedade: questina-alguns principios como o individualismo, o egoismo e a ganância. E de repente a humanidade, sem se dar por isso, vê-se obrigada a rediscutir o processo de acumulação do capital. Os mais radicais das sociedades de consumo, consideram que não faz muito sentido, para não dizer que é ostensivamente abusivo, para não dizer um elemento que escrutina a segurança colectiva das comunidades das nações, que numa determinada rua, onde todos têm normalmente o mesmo perfil, que um só individuo possa ter vinte predios, trinta carros, vinte telemóveis a deitar vastas quantidades de alimentos no lixo, enquanto que, mesmo ao lado, na porta ao lado do mesmo andar, atras dos nossos prédios, mesmo alí na nossa rua, ou no nosso bairro, na nossa cidade, outros, nossos semelhantes estejam com fome, com probolemas graves de educação dos filhos, comem do resto que deitamos ao lixo e dormem debaixo da ponte, porque não tendo posse para pagar rendas, não tendo nada para comer e não tendo casa onde por direito natural poderia estar a dormir com a sua famila: estando de acordo com o principio de que não se pode distrbuir o que não foi produzido, em muitas sociedades as sociedades ostentam riquezas acumuladas que jamais fora produzida no seu país e logo, essa sociedade, vivendo com recursos do exterior, não pode negar a construção do edificio distributivo, justo que inclui todos os inidviduos dessa mesma comunidade.


Essa é a torbulência internacional, global e local que dominou 2009. Ainda bem, pois por causa disso discute-se hoje com menor complexo o papel dos Estados nacionais, deixando-se glissar a “responsabilidade social e institucional destes”e pergunta-se mesmo quais deverão ser os verdadeiros limites da responsabilidade jurídica, social, politica, económica e cultural dos Estados, e quais deverão ser os limites da ganancia e do processo de acumulação da riqueza, questionando-se até que ponto é possível através de apenas o crescimento económico garantir a coesão social, reduzir a pobreza e combater as desigualdades sociais, permitindo que todos tenham acesso as oportunidades de riquezas em igualdas de circunstancias?

Entre nós, quem defendesse, por exemplo, o sistema de salário mínimo nacional, como caminho para reduzir as desigualdades sociais e a pobreza, foi, não bastas vezes, nos cafés e bares da cidade, considerado de tendência populista, com o argumento de que o sistema de salario mínimo reduz a competitividade do pais e agrava o desemprego. As prestações sociais são disponibilizadas como esmolas. E a pobreza é motivo de racionalidade marginal. A forma como os mais abastados da nossa sociedade, aqueles que nos governam e nos dirigem mobilizarem para o seu beneficios recursos do exterior. De contrário, quem defendesse a tese lapalice de que não se pode distribuir riqueza sem que ela seja produzida, podendo dizer de forma mais gravosa de que se a riqueza não existe, ela não pode ser distribuida, não fosse a característica da economia nacional, que basicamente se assente nos recursos externos (ajuda orçamental e créditos concessionais) e remessas de emigrante que atingem valores significativos do PIB, fosse insensato.

Uma série de questionamentos vieram ao de cima - o papel de cada agente económico (empresas, famílias e estado). O modelo de desenvolvimento. O princípio de escassez, da rarifação, da esgotabilidade e doslimites dos recursos. Num ápice, chegou-se a conclusão de que as sociedades que melhor enfrentariam a crise, foram aquelas onde o estado é suficientemente forte para liderar e credível para regular e impedir que a riqueza se acumule num único segmento da sociedade, forçando a sua redistribuição, através da promoção de empregos não precários, trabalho decente e bem remunerado.

Discute-se a velha questão do processo de produção, de circulação, da acumulação e de distribuição de rendimentos. O egoísmo, a especulação e a corrupção estiveram no expectro dessa crise. Mesmo em Cabo Verde a ideia de que a pequena corrupção é sal do processo de crescimento, e que por isso deveria ser tolerada, revelou-se criminoso, tendo sido aprovada uma das mais severas leis contra a lavagem de capital. A ausência de valores. A presença do supérfluo, da especulação e de quebra de regras. Na opinião de Stiglizt e Joseph Nye jr esta é também uma crise, que se configura nitidamente com a crise de liderança – de um modelo de liderança que, basicamente, chega ao fim. Das lideranças que toleram e contemplam a corrupção. Das lideranças temporalmente finitas.

Diz Stiglitz que esta crise pode ser explicada de seguinte forma: é como que no topo da pirâmide de rendimento fosse aberto uma válvula-de-escape através da qual se evaporavam capitais – através de veículos que não estão registados nas entidades de supervisão prudencial, capitais que se escaparam para destinos incertos, cujo endereço ninguém conhece ou ninguém quer descobrir. Esse comportamento posticipa o presente em relação ao futuro – por isso, numa linguagem puramente especulativa, certos autores consideram que a crise de subprime representa uma forma de posticipação de futuros, como dito no introito do artigo, porque escrutina directamente aquilo que é a responsabilidade social do Estado nacional, tornando-o retrogado e absoleto o seu papel, em face dos novos desafios. Discutir essa crise é também discutir a liderança. É ser-se favorável ou contra à corrupção. É discutir a qualidade das instituições e a qualidade do Estado que queremos.

Tratando de uma crise que se pode explicar pela raiz quadrada invertida, ha que dizer que ss seus grandes responsáveis foram gestores de topo que a bem pouco tempo eram considerados ,homens-referencia, homens de sucessos que escreviam livros, davam aulas, faziam conferências e palestras, e portanto elite financeira de alta patente, que teriam encontrado uma forma de quebrar regras, comummente conhecidas, substituindo essas mesmas regras com outras que ninguém conhece, mormente pelas entidades de supervisão, já que metaforicamente grande parte desses gestores eram homens notáveis, cheio de reputação, dos quais ninguém duvida. A verdade é que são esses mesmos homens que retiraram o dinheiro do circuito bancário, através de prémios altíssimos, desvios de dinheiros para as contas off-shore, maximizando a especulação. Com essa táctica, esses mesmos homens acabaram por impingir rotinas desconhecidas à banca, forçando o envelhecimento de um modelo bancário que teria entrado em rupturas, provocando falha à supervisão prudencial e supostamente engendrando crise financeira. Apesar da crise que hoje é comum falar-se, não me parece que a mesma teve inicio através daquilo que se consegue visualizar nessa crise institucional de um determinado modelo bancário. O problema vem de traz, pois a banca não produz, recicla o capital que resulta das transacções que deriva da produção. Por isso, em termos filosóficos, parece-me que a banca de per si jamais deveria de forma isolada ser dona exclusiva das poupanças dos agentes económicos, cujos stocks e saldos deveriam pertencer e serem geridos pelo Estado, neste caso pelo banco central. Existe já uma lição a tirar: essa crise, que mais não se trata de crise de um determinado modelo bancário, vem dizer-nos que nenhum privado pode substituir o Estado e que todos os Estados do mundo deveriam além do banco central, possuir um ou mais ordenadores financeiros, que cuidassem das poupanças socialmente acumulados dos seus cidadãos.

Defendo que é fundamental a presença do Estado na banca, não apenas como detentor do poder de regulação, mas como expressão credível da vontade dos cidadãos. O facto de eu não ter dinheiro não significa que o dinheiro deixa de existir. E o facto de vivermos essa crise da instituição bancária, não significa que a banca deixara de existir. E essa existência não pode presumir-se aos desafios de regulação prudencial, mas sim à necessidade do Estado, também, em assumir a sua responsabilidade de ordenador financeiro inalienável. O dinheiro existe, na medida em que a crise que existe pode ser, parcialmente explicada, através daquilo que o Joseph Nye discute: “a ausência da inteligência contextual” das instituições financeiras e dos seus respectivos líderes.

Os mais radicais dizem que esta crise bancária acabou por espelhar uma nova forma de enriquecimento ilícito dos líderes bancários, que escrutinou a função dos bancos centrais e demais entidades de regulação e do próprio Estado. Na verdade, as entidades de supervisão prudencial jamais poderiam exceder naquilo que se constitui o quadro legal de regulação existente. Falhou o legislador ordinário. E portanto falou o Estado.

A crise acabou afinal por chegar a Cabo Verde e a conspurcação passava a sua vida profissional a quebrar as regras e a iludir o Estado, retirando dinheiro do circuito financeiro para veículos que fogem ao controle das entidades de supervisão prudencial e dos bancos centrais. Tipicamente esta crise parece quadrar-se na racionalidade “posticipação de futuros”, como a classifica a maioria dos “brokers”, escrutinando de forma directa as responsabilidades passadas, presentes e futuras dos Estados nacionais, através das suas entidades de supervisão prudencial. Todos falam da crise de regulação, quando a crise vontade política das sociedades, deixar de defender o seus verdadeiro papel e é controvertido e levado a defender interesses de grupos e de pessoas, distraindo com o desenvolvimento de actividades de curto prazo, onde se exprimem os interesses egoístas dos indivíduos e dos grupos de interesses. Mesmo em economias pequenas, como é o caso de Cabo Verde essa realidade tende a verificar-se: quem lidera e aquele que é mais corrupto e mais negociante. Aquele que tanto diz uma coisa hoje, como se disponibiliza a dizer o seu contrário amanha. Aquele que se disponibiliza a romper com os valores da ética, da moral e do carácter, valores que são intrínsecos à condição da humanidade.
nos interpela para a crise dos Estados nacionais, especialmente quando o Estado, expressão da A pergunta que fica e que é feita todos os dias é aquela que resulta da seguinte pergunta-se: qual é a verdadeira característica desta crise? Muita gente responde ser de quadro difícil. Outros argumentam que o problema esta para além do que se vê e se sente diariamente. Ainda outros entendem que se trata de uma crise pós-modelo, pós civilizacional, pelo simples facto da crise por em confronto alguns valores da civilização como a ética e a moralidade . Isto é para se resolver os desafios que impliquem as questões de escassez, não vale a pena fazer recurso a quaisquer méis para se atingir os fins.

A globalização que teria provocado, há bem poucos anos, discursos “laico-neoliberal”, egoístas e inflamados com a ilusão de que poderia projectar benefícios múltiplos à economia mundial (logo as pessoas), deu fortes sinais de vulnerabilidade. Afinal, o neo-liberalismo “laico/ agnóstico” que acreditava no “mercado” como a rainha/base do crescimento económico, mãe de todas as soluções, afinal tinha pés de barros e ameaça desmoronar-se, permitindo uma aterragem em cima dos valores da ética e da moral.
A quebra sucessiva de regras por parte das lideranças acabou por dizer-nos que esta crise é também uma crise de liderança. Líderes corruptos, que nunca consideram a ética como elemento-chave das lideranças estão no bojo desta crise.

O liberalismo que promove os valores da civilização humana, que permite trabalhar a consciência equitativa ganhava espaços. Outros vaticinavam: esta é uma crise típica de liderança e punham na eleição do presidente Obama toda esperança por causa da recuperação dos valores de civilização nos seus discursos.

A forma temerosa como se processou o contágio a nível da banca internamente e internacionalmente a nível dos países geraram incertezas. Os medos dos impactos negativos na economia fizeram com que o mundo encarasse o cenário de depressão económica, experimentando crescimento negativo com o desemprego a aumentar. Cabo Verde parecia imune à crise. O modelo de desenvolvimento centrado na ajuda pública ao desenvolvimento, configurado na ajuda orçamental, na especulação binomial investimento directo estrangeiro /especulação fundiária e acumulação das remessas dos emigrantes parecia sustentável.
O turismo, considerado “átomo” da economia nacional manteve-se na esfera marginal e sem expressão quando relacionado com o mercado mundial de turismo. A fúria da captação da ajuda fez com que o governo assumisse o discurso de que o país exportasse “a credibilidade”, segundo as palavras da ministra das Finanças e, que como contrapartida, estaria a receber esses dons do exterior, que simbolizava, em certa medida, o prémio pela boa governação. De repente a crise chega e a ministra das Finanças reconhece que ela, afinal está ai. Nem se quer bateu a porta. Chegou e entrou. Aparentemente não traziam quaisquer sacrifícios futuros para as novas gerações. A ilusão da ajuda pública chegou ao fim e para as grandes obras públicas o governo, à semelhança da experiência de alguns países da Europa, utiliza a estratégia de parcerias publico-privado.

O cenário pareceu seja uma “depressão dos valores morais e da ética e também uma crise de consciência e da própria ideologia no acesso ao rendimento por parte das famílias”, induzida pela ausência da responsabilidade social dos agentes económicas, designadamente das empresas e do Estado – diga-se Estados nacionais - em relação às famílias. Nessa crise ficou evidente a crise de um determinado modelo económico, que se baseia não na produção, mas sim na transação especulativa (economia de circulação, e de especulação), da sua imagem, no capital e na excessiva dependência das famílias, tanto no acesso ao capital, como na fixação do valor da sua variável fundamental - a mão-de-obra. A crise demonstrou, por um lado a contracção da liberdade das famílias e por outro a excessiva dependência do capital das famílias e a vulnerabilidade dos Estados nacionais. A crise nos mercado financeiros, quando analisada na sua própria essência, mais não parece ser que uma “postipação de futuros”, que interroga, de forma directa, o papel dos bancos nas diversas economias, a importância do sector primário das diversas economias e a função do Estados nacionais nas suas respectivas sociedades, designadamente na colocação de limites no acesso e acumulação de rendimentos por parte dos indivíduos, das famílias e dos diferentes agentes económicos, inclusivamente aquele agente que, no fundo, representa, em cada conjuntura, a expressão da nossa vontade colectiva – o Estado.

De crise nos mercados financeiros, à crise económica, à depressão e a crise de consciência dos Estados nacionais, sobre a economia mundial, vão ganhar aqueles que tiveram a visão de propor uma revisão ideológica dos modelos económicos baseado no capital, na transacção especulativa, que se centram não nas sociedades, mas sim nos circuitos bancários e nos mercados. Na verdade ao princípio de escassez dos recursos económicos deve ser adicionado o princípio de limite no acesso a esses mesmos recursos. Isto é, no futuro, parece que será saudável a existência de um limite para acumulação de riqueza de um indivíduo, de uma família ou de uma empresa. Ou seja o imposto deve crescer em função da riqueza acumulada, de forma a fortalecer o papel do Estado e regular o processo de distribuição de rendimentos. Na base desta crise, está, ainda, a relação entre países ricos e pobres. Está a relação entre sociedades mais desenvolvidas e menos desenvolvidas. Está a relação entre o trabalho, a produção, a circulação e o capital.

Os Estados Unidos, enquanto potência global, assumiram ser o “epicentro” da crise financeira, e de forma inteligente decidem partilha-la com o mundo. O anúncio da crise dos mercados financeiros nos Estados Unidos, coincidiu com eleições presidências e assim o mundo inteiro aceitou a inevitabilidade da eleição do Presidente Obama, como sendo o primeiro presidente global da humanidade. E curiosamente é negro. De forma estratégica e surpreendente, esse soberbo povo americano assumiu a crise e projectou a solução, inovando e dizendo ao mundo que o futuro dos povos deveria recair adentro das responsabilidades dos Estados e na credibilidade das suas institucionais nacionais, democraticamente revigorados. Por conseguinte e agindo em consequência, elegeram o Presidente Obama, um democrata, contrariando as teses especulativas de que os mercados resolvem tudo e que inclusivamente os mercados podem resolver a propensão de consumo de quem não detém poder de compra e logo achando que as especulações, os enriquecimentos de uns e o empobrecimentos de outros e a exclusão de uns e outros são “bolsas”, inevitáveis, e portanto saudáveis, no capitalismo.

Não se pode dissociar a forma aparatosa como se anunciou a crise dos mercados financeiros da eleição do Presidente Obama. Nesta matéria o povo Americano soube dar lições ao mundo. Da mesma forma que quando fez eleger o presidente Bush estava a cumprir uma missão histórica, vem hoje fazer a mesma coisa elegendo um Presidente Negro, que dificilmente falha, tendo em conta o seu sentido posicional, numa sociedade pós sociedade de conhecimento, portanto detentora de tecnologias, com capacidades e sentidos de planeamento e de inovação, portanto com possibilidade de desenvolvimento de visões que sobrevivam a longo prazo.

As apreciações negativas que se fazem dos últimos 8 anos de Administração Bush, resultam por um lado da intervenção global, sobretudo as militares, pós 11 de Setembro, que os Estados Unidos, da êra Bush, tiveram de empreender contra terrorismo e contra Estados que achados em como apoiavam os terrorismo. Tendo proporções estratégicas, que ultrapassam a capacidade de compreensão de muitas sociedades, sobretudo as que não se pontuam, por enfoque e tuplos estratégicos, que resultem da dinâmica posicional das sociedades, pós-sociedade de conhecimento.

E numa altura em que o mundo inteiro acusavam os Estados Unidos, de serem os principais responsáveis pela crise nos mercados financeiros, ainda no rastilho do unilateralismo militar americano, curiosamente surge o Reino Unido, não sendo ela pais-patria das principais teorias económicas, com soluções, como que situando-se, de forma civilizacional ao lado dos Estados Unidos e antecipando acontecimentos, posiciona-se na vanguarda das melhores praticas para se resolver a crise, enquanto o povo Americano se preparava para eleger o Presidente Obama. Quando o Reino Unido, propôs intervenção nos Bancos; Quando propôs que os Estados deveriam comprar a totalidade das acções, consideradas tóxicas, já que essa toxidade resultavam da falha de intervenção social dos Estados nacionais.

O Reino Unido atravessou no caminho do povo americano, compreendendo, exactamente, a dimensão dos factos e acontecimentos que estavam em cima da mesa, apresentando medidas que de facto contribuíram para estancar a ideia pessimista de que estaríamos perante uma crise estrutural da economia mundial, quando o que estaria a acontecer resulta de uma crise de mercados, determinado por uma crise financeira, de todo em todo superável pelos próprios mercados. Ao menos, as causas da crise nos mercados financeiros foram detectadas e isoladas. Só por nostalgias, se pode pensar que o capitalismo esta em crise, pois na sua verdadeira expressão filosófica demonstrou ter soluções para as suas crises e sobretudo capaz de produzir factos que, se bem geridos, podem levar a mudança da história. Existe, nesta crise, uma dimensão conjuntural de mercados, que decorre dos desequilíbrios em resultado da ausência do papel dos Estados, que nos países desenvolvidos tem vindo a falhar, sistematicamente, na distribuição e regulação do acesso ao rendimento. O furacão Catrina pôs a nu a vulnerabilidade social dos Estados Unidos, que produziram e reproduziam o capital através do mercado e muitas vezes esqueceram-se da função distributiva e redistributiva nas sociedades e logo da regulação e da função mediadora dos Estados e do poder político

Alguns Estados nacionais capitalista, pensando que o mercado resolve tudo, ignoraram a função social do consumo. Sobretudo ignoraram que o consumo requer rendimentos, que requer a predisposição de consumidores em consumir e que estes, nas suas decisões, devem actuar de forma livre, sem pressão dos vendedores, em linha com as suas necessidades sociais elementares e de acordo com o seu poder de compra, nível e padrão de vida. O mundo questiona hoje esses defeitos e confirma a ideia de que a crise dos mercados financeiros, conhecido por crise de subprime representa o preço que os Estados nacionais por não terem sido capazes de antecipar o futuro, desenvolvendo politicas sociais que vão de encontro com as populações, especialmente a franja da população mais pobre, posticipam o próprio futuro – acontecimento regulado só depois do futuro e nesse caso depois de verificado as consequências da crise.

Pode dizer-se que mesmo num mercado livre, não se pode pressionar consumidores e leva-los, em desespero de causa, a assumir responsabilidades que saiam fora do seu poder de compra, sobretudo. Deve-se combater as especulações o empobrecimento de comunidades, induzidos especialmente pelo espelho do dinheiro, que faz com que as populações mais pobres, fiquem ainda mais pobres, ao considerarem que de um momento para outro e como que num passo de mágica e numa de gestão de expectativas pós-rendimentos potencialmente distribuídos, esses consumidores não detentores de rendimentos, passarem a deter poder de compra a rendimentos. Foi posto a nu as disfunções dos mercados e a função social elementar dos Estados nacionais, que são inalienáveis, por incorporarem interesses só passíveis de ser manifestado através do voto.