sexta-feira, 5 de abril de 2013

Da poética de António Machado,


Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
viajante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.
Caminhante, não há caminho,
somente sulcos no mar “
Caminhante não há caminho, faz-se o caminho ao andar

A "escrita"

Escrever sobre algo implica antes pensar, conhecer e compreender - esse algo. Num processo de escrita, cada letra assume uma função. Cada palavra, um pensamento e cada frase uma ideia. É a arte da escrita. Escrever significa registar algo de forma gráfica, em signos e sinais compreensíveis pelos outros a quem nos dirigimos, preferencialmente dizendo coisas que possam ser lidos pelos outros. Escrevo, pois, para mim e para que eu possa expor ideias. Explicar as coisas e exprimir pensamentos, podendo ser políticos. No fundo para exprimir a minha liberdade, através da liberdade de escrita. Para expor as minhas perceções sobre a realidade, sobre este ou aquele tema. Sobre a terceira república, por exemplo. Escrevo para registar as minhas perceções, sublinho. Escrevo para treinar a escrita e deixar um “pedaço” do meu pensamento, num texto alinhado, em qualquer língua, que conheça e domine, em forma de prosa ou até em forma de poema (se o poeta me deixar), claro, numa folha de papel, num disco de um computador, numa pendrive ou em cada letra impressa, a partir de uma máquina de dactilograr. Escrevo para dizer sim e para dizer não. Escrevo simplesmente para negar o meu silencio e expor a minha resiliência. E escrevo, como em tudo na vida, e até para não dizer nada. Escrevo em português, por exemplo, ou em outras tantas línguas, que mal conheço, mas que oiço falar, por este mundo fora, mas que mal compreendo ainda que registado, em forma de escrita, mas que exista, porque falado, ainda que por um punhado de comunidades. A escrita impõe: em primeiro lugar, a existência. Depois o pensamento. Depois a linguagem. Depois a mensagem e depois a compreensão. Implica utilização de sinais e símbolos. Tão simples quanto isto: mas importa saber escrever. Escrevo para exprimir ideias. Para exprimir pensamentos, sublinho, com toda liberdade. Não existe escrita sem ideias e não se é livre se não se sabe escrever. Uma faculdade que só a nós, seres humanos, a providência quis dispensar. Logo podemos pensar. Logo podemos escrever. “Logo podemos existir” Até pela ordem das coisas, porque podemos ter ideias, porque dominamos o mundo – ou pretendemos faze-lo como sugere a dialética de Hegel com a sua teoria de contrários, a tese, a antítese e a síntese. Da vida e a morte. Da noite e o dia. Do par e do ímpar. D preto e do branco. Do forte e do fraco. Da luz e da escuridão. Do saber e da ignorância. Existem muitas formas de exprimir antagonismos, sendo que em quaisquer da formas, expressas - em grafias, em formato de letras que é “uma conjugação de tecnologia de comunicação, historicamente criada e desenvolvida pelas sociedades humanas. “As vezes, apetece escrever sobre o nada – esse nada do filósofo - esse nada que escrutina o sábio - e que explica a existência e que nos diz se existimos ou se não. Escrever sobre “algo” – o algo do desconhecido. O nada - esse nada que só sábio consegue desvendar, mas que, ao procurar a existência, traz luz quando procurado e que só a escrita pode descobrir.