sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Bairro de Santa Filomena, Amadora.
 Em Portugal, infelizmente, podemos, hoje, nos diferentes bairros, onde residem Cabo-verdianos, constatar a triste realidade da pobreza, miséria e caso de abandono humano, que afetam a nossa gente. Refiro-me a situação atual dos ex-trabalhadores Cabo-verdianos em Portugal, hoje em idade de reforma e suas famílias. Bairros inteiros em Setúbal, Seixal, Barreiro, Moita, Oeiras, Amadora, Cascais e Loures onde residem cabo-verdianos clamam por um programa de emergência do governo de Cabo verde liderado, designadamente pela Embaixada de Cabo Verde em Portugal e, amplamente, apoiado pelas ONG's e Associações Cabo-verdianas. Os respectivos poderes públicos, o ministério das comunidades de Cabo Verde, a Senhora Ministra das Comunidades, e todo o Governo de Cabo Verde, os Deputados, as Câmaras Municipais, com as quais as câmaras mencionadas são geminadas em Cabo Verde, não podem deixar de olhar para essa realidade com outra preocupação e responsabilidade políticas. A questão não é para menos, pelo que só  juras e intenções não contam, porque de nada valem. Se há alguma coisa a fazer tem de ser já e por razões humanitárias, porque estão em causa pessoas. Junto a minha voz ao apelo geral: em Santa Filomena na Amadora, bairro em demolição, pessoas (gente jovem de meia e de terceira idade) não têm hoje para onde ir e enfrentam uma situação de impotência, vendo as casas, (barracas por alguns) onde residem há 5, 10,15 e 20 anos a serem demolidas, sem apelo e nem agravo, a coberto de forte aparato policia, por ordem da Câmara Muncipal da Amadora. Clamam todos por um apoio de emergência, especialmente por causa das crianças. A responsabilidade social do Estado é inexistente nesses bairros, mau grado as pessoas que neles habitam terem trabalhado toda a vida e nunca terem descontado para a segurança social, sendo que, por isso mesmo, nunca poderem usufruir de uma pensão de reforma digna. As Câmaras Municipais olham para essas pessoas, simplesmente como coisa, porque já não têm interesse nenhum, por serem velhas, pobres e sem energias. Já não podem nem varrer as ruas, nem serem trabalhadores braçais, nem empregadas domésticas e nem interessa os seus votos, porque esses autarcas, muitos deles, já não podem voltar a concorrer as próximas eleições autárquicas em Portugal, por isso o voto desses emigrantes cabo-verdianos pouco interessa. Todos fogem da sua responsabilidade social e política em relação a esses homens e mulheres que habitam esses bairros e que durante uma vida trabalharam a construir Portugal. Uma profunda tristeza – “uma dor de alma”. As famílias beneficiadas, no passado, com o PER-Família, sem emprego e sem pensão, veem suas rendas aumentar de noite para o dia, mormente quando as suas casas não são dias e noites cercadas, sem razões aparentes, pela polícia, sendo, claro, os “suspeitos de costume”. A primeira geração começa a morrer. As pessoas morrem e a família, por vezes, não tem como realizar funeral, ficando a merce da segurança social, quebrando, muitas vezes, o respeito pelo luto que em Cabo Verde cultivamos quando perdemos um “ente” querido. Uma tristeza que perpassa a alma, sobretudo por serem pessoas, nossas conhecidas - gente que nos são próximas, das quais ouvimos todos os dias falar e originárias da Praia, S. Domingos, São Lourenço dos Órgãos, Sao Salvador do Mundo,Tarrafal, Santa Cruz, Ribeira Grande de Santiago, Santa Catarina, Tarrafal, Santo Antão, S. Vicente, S. Nicolau, Maio, Sal, Boavista Fogo e Brava e que, enquanto comunidade muito contribuiu para a afirmação cultural do país em Portugal.

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