Em
Portugal, infelizmente, podemos, hoje, nos diferentes bairros, onde residem Cabo-verdianos, constatar
a triste realidade da pobreza, miséria e caso de abandono humano, que afetam a
nossa gente. Refiro-me a situação atual dos ex-trabalhadores Cabo-verdianos em
Portugal, hoje em idade de reforma e suas famílias. Bairros inteiros em Setúbal,
Seixal, Barreiro, Moita, Oeiras, Amadora, Cascais e Loures onde residem cabo-verdianos clamam
por um programa de emergência do governo de Cabo verde liderado, designadamente pela Embaixada de Cabo Verde em Portugal e, amplamente, apoiado pelas ONG's e Associações Cabo-verdianas. Os respectivos poderes públicos, o ministério das
comunidades de Cabo Verde, a Senhora Ministra das Comunidades, e todo o Governo de Cabo Verde, os
Deputados, as Câmaras Municipais, com as quais as câmaras mencionadas são geminadas em Cabo Verde, não podem deixar de olhar para essa realidade com outra preocupação e
responsabilidade políticas. A questão não é para menos, pelo que só juras e intenções não contam, porque de nada
valem. Se há alguma coisa a fazer tem de ser já e por razões humanitárias, porque estão em causa pessoas. Junto a minha voz ao apelo geral: em
Santa Filomena na Amadora, bairro em demolição, pessoas (gente jovem de meia
e de terceira idade) não têm hoje para onde ir e enfrentam uma situação de impotência,
vendo as casas, (barracas por alguns) onde residem há 5, 10,15 e 20 anos a serem
demolidas, sem apelo e nem agravo, a coberto de forte aparato policia, por ordem da Câmara Muncipal da Amadora. Clamam todos
por um apoio de emergência, especialmente por causa das crianças. A
responsabilidade social do Estado é inexistente nesses bairros, mau grado as
pessoas que neles habitam terem trabalhado toda a vida e nunca terem descontado
para a segurança social, sendo que, por isso mesmo, nunca poderem usufruir de
uma pensão de reforma digna. As Câmaras Municipais olham para essas pessoas,
simplesmente como coisa, porque já não têm interesse nenhum, por serem velhas,
pobres e sem energias. Já não podem nem varrer as ruas, nem serem trabalhadores
braçais, nem empregadas domésticas e nem interessa os seus votos, porque esses
autarcas, muitos deles, já não podem voltar a concorrer as próximas
eleições autárquicas em Portugal, por isso o voto desses emigrantes
cabo-verdianos pouco interessa. Todos fogem da sua responsabilidade social e política
em relação a esses homens e mulheres que habitam esses bairros e que durante uma
vida trabalharam a construir Portugal. Uma profunda tristeza – “uma dor de alma”.
As famílias beneficiadas, no passado, com o PER-Família, sem emprego e sem
pensão, veem suas rendas aumentar de noite para o dia, mormente quando as suas
casas não são dias e noites cercadas, sem razões aparentes, pela polícia, sendo, claro, os “suspeitos de costume”.
A primeira geração começa a morrer. As pessoas morrem e a família, por vezes,
não tem como realizar funeral, ficando a merce da segurança social, quebrando,
muitas vezes, o respeito pelo luto que em Cabo Verde cultivamos quando perdemos
um “ente” querido. Uma tristeza que perpassa a alma, sobretudo por serem
pessoas, nossas conhecidas - gente que nos são próximas, das quais ouvimos
todos os dias falar e originárias da Praia, S. Domingos, São Lourenço dos Órgãos, Sao Salvador do Mundo,Tarrafal, Santa Cruz, Ribeira Grande de Santiago,
Santa Catarina, Tarrafal, Santo Antão, S. Vicente, S. Nicolau, Maio, Sal, Boavista
Fogo e Brava e que, enquanto comunidade muito contribuiu para a afirmação cultural
do país em Portugal.
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