terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Pontos de vista: uma perspectiva sobre o processo cabo-verdiano! Que cada um tenha aquilo que merece consoante a sua capacidade e esforço.

O “processo” de uma nação (onde se pode incluir um entendimento sobre o processo histórico cabo-verdiano)  pode ser entendido como "uma  dinâmica social antropológica e cultural, económica, social e político, produzido e fixado em formato de lei ou não, e registado num determinado percurso histórico". O conceito é, também, no plano teórico, axiológico. O tema é de resto de interesse filosófico, antropológico, sociológico, económico, cultural e politico se o quisermos abordar na perspectiva mais pragmática do termo, na busca de uma explicação sobre o assunto por forma a que possamos questionar a nossa origem e o nosso futuro, procurando saber quem somos? Quantos somos? Para onde vamos e com que meios? E quais as opções de curto médio e longo prazo que devemos assumir na construção desse percurso? Se existe ou não um processo cabo-verdiano, em que medida ele possa ser entendido e assumido na perspetiva das próximas gerações? O que é que estará por detrás das suas eventuais formulações axiológicas e históricas? Como é que se explica? São questões abertas que se podem formular, quando se pretende falar do assunto e do tema.

Devemos ter presente a dimensão ilimitada das necessidades de mudanças que Cabo Verde, enquanto pais, precisa nos tempos que correm. Cada um de nós, enquanto cidadãos, tem vindo a dar o seu contributo e, deste modo, tem marcado politicamente o pais, enquanto sujeito dessa mudança. Aliás, consequência que parece ter impacto paradigmático e evolucionário progressivo de pressão sobre o processo iniciado há mais de quatro séculos e do nosso esforço individual e coletivo dos últimos quarenta anos de independência. Axiologicamente e como um dos corolários para esse debate, podemos assumir - admitindo como tese -  as marcas que encontramos na nossa sociedade e que são registadas em formato de informações  sincrónicas, relativamente às grandes realizações  operadas, a partir dos momentos em que  ocorreram, no plano político, rupturas que influenciaram as tais marcas que hoje observamos, desde a  independência nacional em 1975, passando pelas vibrantes mudanças ocorridas em1991 e agora por esse processo de estabilização e consolidação sistemáticas que estão a assumir, por causa dos seus contornos, novas variáveis e que, por isso, se não forem convenientemente geridas de forma política e mediante novas paradigmas de reformas e  as suas consequências devidamente reajustadas podem vir a provocar novas rupturas, cujas dimensões podem não ser conhecidas. Esses  três momentos verificados nos períodos pôs independência afirmam-se como esteio de uma parte importante desse processo cabo-verdiano, cujos contornos importa conhecer, porquanto ambos se configuram como faces visíveis das mudanças que fomos capazes de empreender e que merecem ser estudadas e conhecidas.

Nesse percurso desses 40 ano observamos o caracter intróspectivo transitório dessas marcas erguidas nesse período.  (analistas e académicos como Corsino Tolentino, Daniel Santos, Gabriel Fernandes, David Almada, João Lopes filho, Brito Semedo etc produziram textos de analises interessantes, que nos ajudam a compreender melhor esse fenómeno que, de resto é, também, histórico e politico). O período de transição (aberto em 1975) a que eu me refiro tem a sua extensão e génese no horizonte desses 40 anos de independência já percorridos, na medida em que nesse período será possível identificar as principais tensões que determinaram esse percurso.  

Sabemos que o processo cabo-verdiano precisa do estado de direito democrático para se dar a conhecer, faltando-lhe, todavia, um veículo, no caso,  um regime mais ajustado a sua natureza, realidade que deve ser assumido em como fazendo parte de um período de consolidação dessa mudança protagonizada pela sociedade cabo-verdiana há mais 40 anos. Para isso importa seja conhecido. E na perspectiva do processo cabo-verdiano esse conhecimento deve ser debatido de forma aberta o mais urgentemente possível.

Pode-se perguntar quando é que o podemos fazer? A consolidação (desejada) só será possível se também embevecida por um pensamento (novo ciclo de produção ideológico) politico paradigmaticamente novo, como meio indispensável para a sua realização, onde todos nós podemos participar de forma construtivista, voluntaria e livre. Por exemplo: podemos incorporar nessas discussões o debate sobre a regionalização?  Podemos questionar se faz ou não sentido manter as atuais formas de governo da República, designadamente as atuais formas de eleições do presidente da República,? Se devemos ou não debater a possibilidade ou não de rever e reforçar os  poderes do presidente da República? Ou se mantendo a forma como estão os atuais poderes do presidente da República, em que medida faz ou não sentido discutir a possibilidade de alteração da  sua forma de eleição, designadamente passar a elege-lo de forma indireta na Assembleia Nacional? E o nosso sistema eleitoral deve manter-se como está ou devemos introduzir o princípio do voto obrigatório, da mesma forma que o é hoje o recenseamento eleitoral, no sentido da sua qualificação e como é que devemos organizar o processo eleitoral na diáspora? São questões que grassam no nosso dia-a-dia  e que nos devem interpelar. O que sabemos é que Cabo Verde precisa assumir a sua paradigma de reformas. Não vale a pena pensarmos que o não devemos discutir nesse tempo. Pois, vivemos, hoje, de facto, pressionados por essa necessidade.
A busca de uma melhor narrativa sobre o processo cabo-verdiano pode conduzir-nos a um tipo de debate muito concreto sobre a dimensão “para-moderna” da nossa sociedade e o seu sistema constitucional. E, por isso, pode ser levantada estas questões: para quando essa discussão ? Agora nestas eleições legislativas e presidenciais? Poderá sê-lo!.. como é evidente. Vai depender das plataformas eleitorais (no debate nas legislativas) e dos candidatos (no caso das eleições presidenciais). Para mim, esse debate não ficaria completo, sem que fosse registado o contributo histórico fixado nesse período transitório de 40 anos de independência e sem uma necessária e frontal atitude confrontacional em relação a necessidade dessa paradigma de reformas . Uma nova visão construída sobre o processo cabo-verdiano e sua fixação temporal levar-nos-ia, ainda, ao interior desse período e iria capacitar-nos para o diálogo político interno e diplomático que temos de empreender com o mundo, com o qual, de forma complexa, nos relacionamos e permitir-nos-ia o rastreio dessas circunstâncias e uma paulatina eliminação das dúvidas que prospectivamente  alimentamos sobre nós próprios e que tem afetado a nossa confiança coletiva.

Esse debate permite clarificar a possibilidade de escolhermos o melhor sistema constitucional, o melhor regime e sistema de governo mais adequado a nossa condição de país das diásporas. Ajudar-nos-á a fixar (de forma abstrata) as nossas metas. O sentido do nosso interesse nacional – o nosso conceito estratégico nacional (CEN) e as suas prioridades.  Por último, o que se pode concluir com esse debate é podermos fixar a consciência que a sociedade cabo-verdiana está em mudança e está a evoluir muito rapidamente. O homem cabo-verdiano de hoje, não é o homem cabo-verdiano de outrora. Ele é resultado desse percurso histórico, por isso é hoje muito mais exigente e já começa a não ter tempo a perder, pois já não emigramos involuntariamente.

Se olharmos para a nossa Republica de hoje, concluiremos que ela não pode ser a Republica de ontem e nem estagnar-se à luz das conquistas desses 40 anos. Precisa mudar e precisa de novos ajustamentos ao nível do seu sistema constitucional. Já assistimos a primeira República; já percorremos a segunda Republica.  E o processo “para-moderno” da cabo-verdianidade, tendo muito por descobrir, conduzir-nos-á, inevitavelmente, à terceira Republica, onde a pobreza deve ser declarada uma ofensa a moralidade pública, as desigualdades sociais a condição de partida para o sucesso de cada um de nós, porque (simplesmente) como um dia afirmou  Gabriel Garcia Marques (...)"os hábitos que resultam das fragilidades das nossas coisas, quando em presença das forças, devem ser superados e ignorados e os modos de vida (no fundo a cultura) que resultam da escassez,  quando em face de abundancias devem ser substituídos por hábitos e modos de vida novos". 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Sociedade civil, o que é isto?

Uma sociedade civil forte jamais permitirá falências às suas instituições. Pelo contrário. É capaz de estimular os seus líderes a serem mais fortes, conferindo-lhes os necessários meios para que atinjam os seus objectivos. Incentivam-nos a serem mais e melhores líderes (a serem lideres de todos) facilitando o caminho aos cidadãos e fazendo com que a burocratica (os políticos e os partidos) se situe sempre entre a «razão da política e racionalidade do poder», sempre em prol do interesse coletivo, conferindo-lhes missão. Tudo em prol do bem comum e do povo, fazendo com que as pessoas se sintam verdadeiramente mais livres, mais iguais em termos de direitos, mais liberais no acesso aos bens e serviços e mais fraternos e solidários, em linha com o fim último da política que é servir o povo e não servir-se dele. 

Países, onde a sociedade civil é forte, exigente, culta e idónea, têm partidos fortes e, normalmente, têm (também) um quadro partidário estável, democraticamente confrontacionário e bipolar: em França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, Portugal, Espanha e América Latina, o quadro político é confrontacionário mas é também bipolar. Nesses países coexistam sempre dois grandes partidos. A bipolaridade, consagrada nesses países, reflecte, em certa medida, a soberania do princípio "partidocrático" das medidas e politicas e do seu grau de desenvolvimento e maturidade, instalados de direita à esquerda, passando pelo centro. 

Na Europa comunitária (mais) e nos Estados Unidos (menos) os pequenos partidos não são proibidos. Pelo contrario. São, muitas vezes, excepções que confirmam a regra em relação a existência de uma certa periferia ideológica de esquerda ou da direita. Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha, Portugal, Holanda etc.. são exemplos acabados desse paradigma. Nesses países a sociedade civil é culta. Goza da necessária credibilidade e autonomia. É forte e exigente. 
                                               
Aqui no nosso meio uma pergunta nos vem à cabeça sempre que se fala dos partidos e da sociedade civil: a bipolaridade partidária? Que reformas devem ser empreendidas para que essa bipolaridade, sendo histórica e culturalmente noutras nações um indicador de qualidade da democracia, possa ser também aqui garantida, desenvolvida e consolidada? Parece ser, além de saudável desejável que, enquanto país em desenvolvimento, se procurasse, em Cabo Verde, construir uma realidade partidária bipolar, qualitativamente assumida entre o PAICV e MPD, pois que aqui os pequenos partidos tendem a dissolver-se e as grandes contradições que naturalmente estão na sua origem tendem a diluir-se a favor do estado, que detém os meios e as posses para propor a sua resolução.

a) Sociedade civil, o que é isto?:

Aceita-se por definição que uma sociedade civil forte é aquela que também procura nas suas diferentes formas e através de suas diferentes iniciativas, manifestar-se e, inclusivamente, complementar os partidos e a sociedade política organizada e burocrática que dela se emerge.

Por contraposição das sociedades burocráticas a sociedade civil deve ter um condão de civilidade, pois que uma sociedade civil forte não é apenas aquela que erroneamente, nos nossos dias, ataca os políticos e os partidos ou que passa a vida a tentar demarcar-se destes ou que deles pretende demarcar-se mas é, antes de tudo, aquela que reivindica, protesta, permite escolhas eleitorais e não fica em casa no dia do voto. Não se vende, mas também não se deixa comprar, apresenta propostas, confia nas instituições e enquadra os cidadãos.

Sociedade Civil é uma expressão que indica o conjunto de organizações e instituições cívicas voluntárias que constituem os alicerces de uma sociedade em funcionamento, em oposição com estruturas que são ajudadas pelo Estado. Existem várias definições de sociedade civil. A primeira surgiu com Adam Ferguson, filósofo escocês, que escreveu a primeira obra a respeito da sociedade civil em 1767, obra intitulada "Ensaio Sobre a História da Sociedade Civil".

De acordo com Ferguson, sociedade civil é o oposto de um indivíduo isolado, mais concretamente, alguém que vive numa comunidade. Posteriormente, o conceito de Sociedade Civil foi desenvolvido por Immanuel Kant, sendo que para ele a sociedade era baseada no direito. Um conceito muito usado é o de sociedade civil organizada, descrita pelo autor Nildo Viana como uma "uma mediação burocrática entre sociedade civil e estado”. Enfim soceidade civil somos todos nós. São os cidadãos. São os membros de uma comunidade.

sábado, 25 de julho de 2015

Diplomacia cabo-verdiana. Um eixo de esperança.


Segundo noticias, no Conselho de Ministro da última 5ª feira, o governo de Cabo Verde decidiu pela criação da Embaixada em São Tomé Príncipe, tendo subido, nesse caso, o nível de abordagem diplomática com São Tomé e Príncipe, elevando  o anterior Consulado- Geral ao estatuto de Embaixada. Bem o merece a nossa diáspora em STP. Não me parecendo seja uma espécie de «pré-aquecimento diplomático» em período de pré-campanha e por não me parecer seja nenhuma medida de «sobre diplomacia», a medida deve ser saudada e considerada como um sinal positivo de esforço do país e da nossa diplomacia, tendo-me agradado com a iniciativa, dado que a diáspora cabo-verdiana naquele país sairá a ganhar, perante uma medida que há muito tempo vinha sendo reclamada.

Essa decisão governamental pode estar alinhada com a recente visita do Presidente da República a STP? Não sei! Se assim for, bem para o país. Demonstra maturidade política das instituições da república, e que estamos a apreender com os nossos erros, especialmente porque colocado o interesse do pais e da nação acima dos interesses de cada protagonista (não importando os interesses particulares de cada titular). Não menos importante foi a visita do chefe do governo a Guiné-Bissau.

Deve ser encorajado esse tipo de iniciativa, pois Cabo Verde não pode poupar esforços no sentido de se encontrar uma plataforma de ação que forneça ao país uma estabilidade diplomática e política projetiva e continua  que norteiam a sua política externa, para que paulatinamente  sejam ultrapassadas o risco da desenvoltura do tipo de diplomacia furtiva, impeditiva de construção  de uma doutrina diplomática duradoura e estável. E isso consegue-se sendo proactivo e ousado e olhando para as "novas zonas de influência política e diplomática natural de Cabo Verde".

Por isso, medidas do tipo devem ser apoiadas e devem ser apoiadas também a aposta na aproximação diplomática de Cabo Verde à Guiné-Bissau  e também a aposta na integração regional na CEDEAO, numa relação de maior cumplicidade entre os dois Estados, onde a Guiné-Bissau pode funcionar como guarda avançada e Cabo Verde como sua retaguarda estratégica, no sentido de melhor e mais integração no espaço da CEDEAO e no fortalecimento das relações com cada um dos países membros.


Nesta matéria, o país deve atingir um grau de maturidade que o coloque num ponto de não-retorno, por forma a que possamos avançar, inequivocamente, qualquer que seja o próximo governo - de qualquer partido que venha ser governo. 
Tenho por mim que a Guiné-Bissau, São Tome e Príncipe e Angola podem ser estados associados de Cabo Verde e representarem um dos eixos estratégicos vital na afirmação do nosso país e no desenvolvimento da sua política  externa, complementando a geopolítica que, no futuro, poderá desenvolver-se nesse espaço de interesse  «glocal» de penetração mundial - tido como espaço de atlântico médio.

Cabo Verde não pode perder tempo no delineamento dessa visão geopolítica e estratégica na construção do seu «CEN - conceito estratégico nacional» como razão vital e estratégica de muito longo prazo, conquanto ponto partida para a sua participação política  consciente na comunidade mundial. A Guiné-Bissau, como prémio pelo seu passado político, militar e diplomático de «sobre esforço» e alto engajamento na luta pela independência; São Tomé e Príncipe pela proximidade diplomaticamente indutora da nossa nação, motivada pelo peso dos cabo-verdianos na sua estrutura social. Angola por variadíssimas razões estratégicas, mas, assumidamente, conquanto potência futura  sub-regional”, regional e africana, com capacidade de projeção de forças que possam, no quadro da estratégia de segurança cooperativa do atlântico médio, contribuir para garantir a paz e tranquilidade a essas nações ribeirinhas e torna-las credíveis na proteção das suas posições externas, no âmbito dos seus interesses geopolíticos.

abertura de Embaixadas em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau e em mais alguns países da CEDEAO, designadamente na Nigéria, pode virá configurar-se como uma premente necessidade no futuro próximo, fornecendo conceitos, pensamentos e elementos estratégicos vitais na construção de uma nova doutrina diplomática complementar para Cabo Verde, adentro do principio daquilo que poderá vir a ser o  CEN - conceito estratégico nacional de Cabo Verde e que permitirá a afirmação de Cabo Verde, enquanto polo de desenvolvimento sustentável e credível no atlântico médio.

Por ocasião da luta de libertação nacional, Amílcar Cabral teria lançado o principio da  «unidade da Guiné e Cabo Verde» um povo e uma só nação como razão para a mobilização da luta na Guiné e em Cabo Verde perante um inimigo comum. Olhemos para esta perspectiva de um outro angulo! uma ideia considerada na altura virtuosa, cuja fundamentação poderá ser re-abordada  (hoje) de um outro angulo, ao nível do desenvolvimento das relações entre Guiné e Cabo Verde. Não nos mesmos moldes, porque os inimigos comuns mudaram de perfil, mas tendo como elemento nuclear a democracia, a boa governação, o bem-estar social, a qualidade de vida dos cidadãos e a promoção do Estado de direito democrático, no sentido de "associação desses dois Estados". 
Hoje podemos ler esse pensamento de Amílcar Cabral em como tendo sido no plano das ideias políticas, uma ideia que apontasse para a necessidade de uma «ancoragem» de perfil geoestratégico para Guiné e Cabo Verde. Se o principio que esteve na base da ideia de  «unidade da Guiné e de Cabo Verde»  for filosófica e politicamente revisitado e bem identificado e se for reconceitualizado pode, eventualmente, configurar-se como sendo atual, podendo servir como forma de retomar o olhar para a formulação desse novo paradigma.

Por exemplo, a ideia de Estados-Associados pode ser pensada e desenvolvida entre Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tome Príncipe, numa primeira fase e, Angola e Brasil numa segunda fase por serem todos estados ribeirinhos.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Morreu o nosso Poeta!


 A morte hoje anunciada do poeta Corsino Fortes é mais uma prova do silêncio que a morte nos impõe. O nosso grande poeta morreu. Fica o legado do seu poema. Fica o conhecimento que em vida soube partilhar. Fica a áurea de um homem “solene” que desde que nasceu decidira não morrer. Ficam os seus amigos. Os livros que escreveu. Os filhos que teve. O poema que nos dedicou. As causas que abraçou. E o país que ajudou a construir. Ficamos nós aqui Dr. Corsino Fortes com eternas saudades e a estudar o património que nos deixou. Siga-nos do alto, porque seremos todos testemunhos do merecido panteão que em vida soube construir. Eterno descanso.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

CRONICA SOBRE A "MORTE".


Há dias um amigo chamou-me para me dar notícia de que teria morrido a irmã de um outro amigo comum. Nesse mesmo dia, ouvi choro em casa de um outro vizinho e vi que alguém, por lá, teria morrido. No caminho para ir dar pêsames a casa desse amigo vi funerais. Ouvi notícias de desaparecimento físico de alguém. E depois faleceu a minha querida irmã Mariana, cujo sofrimento e morte acompanhei até o último minuto. Prometi, então, escrever esta crónica, à sua memória, sobre a morte, porque pressenti que “nós não somos donos de nós”  e porque num belo dia nascemos por causa dos outros e, num triste dia, outros narrarão a nossa morte!. E porque nunca narrarei a minha própria morte?!

Questionamentos, sem respostas, com causalidades múltiplas, que nos surgem ao longo das nossas vidas, sempre que um familiar, um vizinho, alguém amigo ou sempre que ouvimos noticias que alguém terá morrido. Ou sempre que as causas da morte de uma determinada pessoa provocarem alarme social e forem razão da notícia pública -provocando espanto. Desde a Grécia antiga, idade média, até os nossos dias, a tentativa de se encontrar uma explicação para a desconstrução do fenómeno da morte apontou sempre para a realidade de não sermos donos de nós e que a caminho da morte, (nós) homens, pela nossa consciência, tendemo-nos a procurar um amparo. Criamos e admitimos Deus, como ponto de chegada, conquanto circunstancia omnipresente (não material) que infelizmente os olhos do nosso corpo físico não conseguem ver. E a dúvida metódica tornara legitima a seguinte observação: como é que podemos ter garantias de ver Deus depois da morte quando desconhecemos a forma de visão (se existir!!!) que hipoteticamente re-adquirimos na morte, já que os olhos físicos que transportamos desfazem-se com a morte? A Sagrada escritura esclarece-nos que é por via  da fé, caminho através do qual  transpomos o nosso limite e apercebemo-nos da existência de Deus.

Olhemos, então, para a nossa limitação material que é que aquilo que nos faz aprender a lidar com as causas das causas da morte e não, diretamente, com a morte, enquanto fenómeno perpéto  e repetitivo, em si. O ensinamento de que alugueres um dia a morte dissera a um velho Caminhante: “no dia em que alguém me apanhar a matar alguém, deixarei de matar” fdc exprime e nega a existência de uma causalidade direta entre o acto de morrer e a morte. A morte não atua, por si só, enquanto fenómeno virtual isolado que pressiona a existência material dos individuos, ela atua e exprime-se através das suas causas - das suas razoes. A morte nunca mata todos de uma só vez, o que conseguintemente toca um certo princípio casuístico da racionalidade que o acompanha (fazendo escolhas) quando ela actua - por parecer manifestar-se através de uma certa equação e através deste principio: " a morte não nos mata todos de uma só vez".

Por via da contemplação da alma e do espirito: morrer significa deixar que o nosso espírito se deslize pelas mãos de Deus, dizia S. Francisco de Asis. Sempre que alguém morra  voltamos a fazer a pergunta: Onde estás Tu óh morte? Porque nos mata? Como a morte parece, tão só,  ponto de partida que nega a vida (o sítio geral que dominamos), caímos quase sempre no mutismo  do desconhecido ou da ilusão que resulta da nossa perceção geral da invetavibailidade da morte, por que impotentes perante o fenómeno e perante as suas causas. 

Porque choramos quando se morre? Enquanto vivos choremos por nós próprios: “vós mulheres não chorem por mim, chorrem antes por vós mesmas” dizia Jesus Cristo no suplício da Cruz. Discutir a morte é encontrar um lugar-comum a partir do qual podemos encontrar explicações das causas das causas da morte: as causas, das causas, das causas da morte e aceita-la como um fim. A morte cria-nos uma expetativa negativa e lenear da consciência de que não somos donos de nós. Eu não sou dono de mim? Questiono-me sempre? Porque existe uma parte de mim que não me pertence; Sobre a qual não tenho nenhum domínio. Essa parte de mim está ligada ao meu nascimento que dependeu de outras pessoas e da minha morte que irá depender das suas causas. Eu, enquanto individuo, com a minha consciencia estou situado no meio, aberto dos dois lados, quando eu nasci e quando eu morrer. 

Porque morremos – nós - então? por uma fatalidade e desígnio superior qualquer, onde cada homem termina a sua relação com um universo «culto-material e imaterial» específico e finito. Mais ou menos rico. Sempre original, pelo menos irrepetível na acessão individual da palavra. O que o homem deixa quando morre, designadamente os seus escritos, os objetos culturais que criou. A memória da sua palavra. Os filhos que conseguiu ter. Os seus gestos. O seu sorriso projetado muitas vezes naqueles que com ele viveram. O silêncio fúnebre do leito da morte. Tudo exprime uma harmonia de contrários em autoafirmação e de negação constante que se afirma ao longo da vida e com a presença da morte. Uma causa. Uma consequência. Uma ordem. Uma realidade finita e infinita que está para além de nós, para além do nosso corpo material e físico.

Temos a consciência de que as causas de um determinado fenómeno, nem sempre explicam a sua origem. E em presença das causas da morte produzimos aquilo que Santo Agostinho chamava de narrativa resignativa do homem em relação a inevitabilidade de um fenómeno natural que não domina - que traduz uma certa crença omnipresente permanentemnete em confronto com a sua existência. A força de contrários como perceção fundamental, que se exprime na morte: a forma mais acabada de expressão dessa força de contrários na esperança de que existe vida para além da morte? Questiono. Se se criam a consciência de que existe vida para além da morte, nega-se a própria morte enquanto percuso inevitavel. E ao nega-la reafirma-se a existência da vida, enquanto forma de eclosão existencial. Pura negação da negação, enquanto prova filosófica acrítica de que existe vida para além da morte.

O facto de eu imaginar que a minha falecida irmã está hoje no paraíso, alivia a minha angústia e a minha dor e manda a minha consciência regressar à normalidade das coisas do dia-a-dia, pois se a minha irmã está no paraíso é porque ela está bem e se ela está bem não tenho que com ela me preocupar. Essa é uma das muitas posições que se criam perante a morte de alguem, sobretudo alguem que conhecemos ou de um familiar. Se nascer e viver foram e serão privilégios da existências de uns quantos biliões, triliões ou quatrilhões de seres vivos que vivem no mundo, morrer pode ser entendido como extensão da vida e, seguramente, como uma forma de se atingir a uma nova vida. É a certeza de que um dia havíamos nascido, momento a partir do qual o homem, o único que detém a consciência de que algures no universo existe uma dimensão temporal explicativa finita e intemporal que pode manifestar-se através da consciência da vida e interrompida através da consciência da morte. Por si só existe a consciência da morte porque temos o privilégio de sermos testemunhos da morte dos outros, facto que gera em nós o medo de morrer. E fica a pergunta: como ultrapassar o medo de morrer? Não se resolvendo o medo de se morrer com a morte,  atenua-se conspurcando o facto de existir vida para alem da morte.Quando admitirmos a existência da vida para além da morte e formularmos esse desejo em benefício de alguém que morreu, estamos a contratualizar uma esperança: quando eu morrer, vós que podeis assistir a minha morte rezem por mim e peçam a Deus para me acolher no paraíso eterno, como recompensa prometida e merecida.

Na morte - ao homem - é subtraída a consciência que emana do seu corpo físico, conquanto dimensão disruptiva do individuo. Na morte existirá uma ética fatalista que fornece explicações, através de frases como esta: uma vez nascido, todas as criaturas detentoras do corpo físico têm uma probabilidade certa de morrer. Fdc, dizia Almeida Filipe num brilhante texto sobre o tema. Morrer é coisa natural”. Fulano ou Sicrano morre de doença prolongada. Fulano ou sicrano foi vítima de homicídio. Fulano ou sicrano foi vítima de acidente. Isto é, logo que temos notícia de que alguém morreu, perguntamos do que é que ele se padecia e/ou aconteceu? Pois a existência do nexo de causalidade direta entre a morte e suas causas permite aceitar tais causas como sua razão vital, por isso se procura sempre pelas causas da morte. Por detrás do nascimento de qualquer “Ser” está um acto de criação e de amor! E por detrás da morte, o que estará?  As suas causas ou racionalmente as causas da sua razão vital.

Jankélévith afirmava na sua poética: //onde eu estou//a morte não está// e quando a morte está lá// sou eu que já não estou mais//. Enquanto eu estou// a morte virá// e quando a morte vem, aqui e agora já não há ninguém//. Somos mortais, fisica e conscientemente. Morremos um dia, mas a consciência, por que (presume-se) mortal (porque depende do corpo físico), prefere (em vida) construir e admitir a imortalidade como um recurso e um estádio para além do corpo físico, atingível com a morte, assumindo e admitindo um cenário da transcendência da alma e do espirito, enquanto razão vital do nosso corpo fisico. Neste cenário quando se morre extingue-se o nosso corpo físico e a nossa alma, por hipótese, junta-se ao nosso espirito para se começar de novo”. Admite-se a morte enquanto estado simbólico : morre-se para se atingir a purificação”. Morre-se para se negar a matéria. Morre-se para se ir ter vida para além da morte e para se ver Deus etc...etc.

Medimos a existência da alma também quando dizemos que ela existe, para reconhecermos de que ela torna ilimitado a matéria finita que é o nosso corpo físico, associando-se ao espirito. A alma confere assim aos seres vivos com consciência de que é a consciência que a imagina e a faz brotar da consciência que emana do corpo físico, a ideia da imortalidade. A Escritura Sagrada fornece-nos pistas completas sobre a morte. Pela escritura Jesus ressuscitou ao terceiro dia, após a sua morte e quando ele reaparece aos discípulos, pela primeira vez, disse-lhes: a paz esteja convosco como se ele próprio Jesus (que é Deus) tivesse regressado de uma grande batalha (um conflito) embora não assumindo o corpo físico que detinha antes, mas sim manifestando-se através do espirito.

Para nós Seres humanos quando uma pessoa morre, morre a sua consciência. A morte é aquele fenómeno que verdadeira e inexoravelmente separa o corpo físico do “corpo” espiritual e logo coloca um ponto finito na consciência que emana desse corpo físico. Os seres inanimados não morrem, porque não têm vida. A morte, enquanto etapa do processo existencial é, (enquanto faculdade natural), conferida apenas aos seres animados porque fixa, de forma intemporal, o nosso limite. E é repetitivo. E ao colocar esse limite sugere que a perpetuidade da vida dos seres animados  dá-se pela conformação reprodutiva da espécie. Temos um curto tempo de vida mas, antes disso, reproduzimos e deixamos filhos. Ou se germinam novos seres. Os nossos filhos são a nossa extensão. O nosso prolongamento. Nessa perspetiva a morte é também centro vital da existência. Nossa razão vital porque justifica a reprodução da espécie. E é nesse estado da arte que visualizamos a morte no seu género (des)construtivo, como razão vital.

Na presença da morte consentimos quase sempre a existência de Deus (por isso rezamos) único conceito que por que inatingível, imaginamos ser o dono dos fenómenos que não conhecemos e, por isso, dominador da origem da morte e que permite a sua negação, através do trilho dialético da vida, introduzindo dois caminhos - o caminho da reprodução da espécie e o caminho da ressurreição – ambos verificados e testados pela ciência, pela história e pela doutrina. Não raras vezes sonhamos que vimos alguém morrer. Ou que nós próprios morremos. E quando sonhamos que morremos, não raras vezes, acordamos (atónitos) assim que a consciência nos toca o alarme da vida – e dizer-nos que apesar de termos sonhado (as vezes) vigorosamente que morremos  estamos vivos e que importa acordar. A verdade é que a morte, enquanto tal, procura negar o que se possa considerar a presença vital da vida. Ela não se relaciona de forma direta e acrítica com a mesma. De sorte que a própria ciência, passando ao lado do fenómeno da morte, investiga as suas causas, movida por um tipo de argumento vencido que, pela sua complexidade disruptiva, quando, em presença da morte, deturpa o conhecimento sobre o tema, (assumindo a naturalidade das coisas) preferindo lidar com as suas causas e nunca com a sua origem: morre-se porque algo aconteceu, não porque a morte resolveu agir, recorrendo-se às suas armas, que nós, seres animados pela consciência, tomamos como sendo causadores da morte. Intuitivamente assumimos que existe um princípio para o começo da vida, e existirá um outro princípio para o fim da vida - que é a morte.

A narrativa crítica da morte em relação a vida toca o que estará por detrás da sua razão vital. Facto que para nós se torna numa realidade desconhecida. Dura a forma como a morte lida connosco e nos manda matar, e silencia o nosso corpo físico, através das suas armas – as suas causas. Onde estás Tu ó morte? Onde está o teu poder tão forte? E onde está a tua vitória. É a pergunta de sempre. As perguntas que nos sobram fazer, eriçadas por uma espécie de egolatria da própria morte, que exibe o seu poder, perante as nossas fraquezas – que no fundo exterioriza e nos teoriofedeliza perante um fenómeno impossível de detalhar. Mas o que é isto de morrer? Morrer significa o que é? É deixar de viver. É perder vida. É iniciar uma nova etapa do processo existencial? Talvez seja isso. Talvez não seja!  O que se pode concluir é que "nós não são donos de nós próprios", dizia eu no início desta crónica à memória da minha falecida irmã, Mariana! Pois nenhum de nós é responsável direto pela nossa vinda a este mundo e nem seremos os responsáveis pelo seu abandono: Alguém conta por nós como nascemos e alguém contará por nós como morremos. Nunca vemos alguém contar a forma como nasceu e nem ninguém contará a história da sua própria morte.

Nem Jesus Cristo o fez. Há um sopro da vida e haverá sempre um sopro da morte. Pergunta-se: quem detém a capacidade de os produzir e de os gerar e gerir? Talvez a providência divina. Talvez a Santíssima Trindade. Talvez a existência - talvez o trilho de Deus Pai todo-poderoso – princípio e fim de tudo quanto existe. Sítio imaterial onde reside a origem e a não origem das coisas. Se um dia a ciência procurar investigar e dar como explicado o fenómeno de Deus, discutir-se-ão melhor a origem da vida e aceitar-se-ão melhor a morte e não nos conformaremos, simplesmente, com as suas causas como sua razão vital. A morte nega a intemporalidade aos seres animados (diga-se em primeiro lugar o homem) tendo como virtude para quem acredita na vida para além da morte, que poderá ser o salto quântico para se conhecer a imaterialidade do Conhecimento e de Deus. Não somos donos de nós! um belo dia nascemos por causa dos outros e num triste dia outros narrarão a nossa morte!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Eng. António Espírito Santo - primeiro Provedor da Justiça de Cabo Verde

O país acaba de conhecer hoje o seu primeiro Provedor da Justiça. A escolha recaiu sobre o Eng. António Espirito Santo, ex-presidente da Assembleia Nacional. Homem impoluto, de invulgar honestidade intelectual, Espirito Santo, como vulgarmente se lhe conhecemos o nome, ajusta-se ao lugar e, como tal, enquanto cidadão, sinto-me reconfortado, devida e justamente, representado. Felicito-o por esta escolha. Revejo-me plenamente nessa decisão. Estão de parabéns os grupos parlamentares do MPD e do PAICV, por terem chegado a esse acordo quanto a esse nome. Em democracia, em regra e bastas vezes, dizemos que os “consensos existem para serem negociados e acordados”, pois não existem consensos políticos fiáveis, em democracia, sem negociação e aí está um bom exemplo - um boa negociação dos grupos parlamentares, que resultou na escolha de um bom nome, capaz de exercer o cargo de Provedor da Justiça, com rigor, honestidade, isenção, independência e imparcialidade. Desejo longa vida ao Eng. António Espirito Santos e muitos sucessos nas suas novas funções. Bem-haja.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Com devida vénia ao diário online assemana.sapo.cv: "Remessas dos emigrantes continuam a crescer "

"As remessas dos emigrantes cresceram pelo segundo mês consecutivo, tendo atingido no mês de Julho último 1.353,3 milhão de contos, segundo dados provisórios do Banco de Cabo Verde (BCV), noticia o diário online www.assemana.sapo.cv, indicando que "os países de onde vieram as remessas mais expressivas são Portugal e França com 458 mil e 332,5 mil contos, respectivamente"".

                     
A mesma fonte noticia em manchete que dos Estados Unidos, por exemplo, chegaram 185,9 mil contos, mais 20 mil contos do que os 165,5 mil contos remetidos em Junho. Que dos Países Baixos vieram agora 104,4 mil contos, quando em Junho foram apenas 92,2 mil contos. Que os cabo-verdianos em França registam em Julho um dos aumentos mais significativos nas suas remessas: mais de cem mil contos – mandaram 332,5 mil contos, contra 227,3 do mês anterior, confirmando a tendência crescente que se verifica desde o início deste ano. Que os emigrantes que residem em Itália canalizaram para o país 87,6 mil contos e os da Alemanha 12,7 mil contos, que curiosamente foi de Portugal, país que enfrenta uma das piores crises económicas e financeiras na Europa (estando por isso sob programa de assistência financeira internacional), que veio a soma mais expressiva: 458 mil contos. Este valor confirma o crescimento contínuo dos envios de remessas, que estavam em 288,7 mil contos em Maio e 303,8 mil contos em Junho. Que os restantes países – Reino Unido, Suíça, Angola, Luxemburgo e Espanha – também registaram aumento de remessas, mas os montantes situam-se ainda abaixo dos 50 mil contos por país. Os emigrantes originários da Praia foram os mais “generosos”, expedindo para o país no mês de Julho 311,51 mil contos, seguidos dos de São Vicente, que enviaram 259,86 mil contos. Seguem-se os emigrantes de Santa Catarina de Santiago, que enviaram 209,91 mil contos, os de Tarrafal 131,88 mil contos, os de São Nicolau 94,18 mil contos e os do Fogo 73,18 mil contos. Para Santa Cruz foi remetido 59,86 mil contos e para Ribeira Grande 47,83 mil contos. Sal e Boa Vista receberam 39,85 e 39,36 mil contos. Porto Novo, Maio e Brava receberam 36,97 mil, 25,87 mil e 23,19 mil contos, respectivamente. Fim de citação.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Foi com tristeza que recebi a notícia de que a FIFA terá rejeitado o recurso interposto pelo FCF.

Foi com tristeza que recebi a notícia de que a FIFA terá rejeitado o recurso interposto pelo FCF. Pode-se e deve-se continuar com o recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto, mesmo sabendo que, a partida, estará condenado ao fracasso. A nossa condição de sermos um Estado que se funda no direito, assim o exige. Olhemos em frente. O momento é de tristeza para o futebol nacional, porque não se conseguiu concluir o extraordinário trabalho de levar o sucesso até ao fim, perante o esforço de uma geração de jogadores, treinadores e dirigentes que tudo fizeram para que, também no futebol, o nome de Cabo Verde fosse colocado ao mais alto nível, lá onde era impossível pensar que fosse. Por causa de uma pequena falha de interpretação, pagamos o preço e não vamos ao mundial de 2014, quiçá por culpa nossa ou por que não quiseram que lá fossemos, ou simplesmente porque fomos ingénuos: tão pequenos e quão grandes as nossas ambições, perante um mundo competitivo, onde as Nações que se prosperam têm de conhecer bem o chão que pisam. O país inteiro apreendeu a acreditar no impossível: ver Cabo Verde no topo do mundo e representado ao mais alto nível na arena do futebol mundial. De repente a crença transformou-se num mito e a confiança num silêncio, pois que a ilusão de um sonho conheceu a dura realidade, que sussurra baixinho em cada um dos nossos ouvidos. Ainda assim devemos ser solidários com a FCF, pois ser solidário nestas circunstâncias é uma obrigação nacional. Sermos solidários com esses jovens jogadores, treinadores e dirigentes é, em ultima análise, ser solidários com Cabo Verde. Se há dias estivemos na rua a gritar pelos Tubarões azuis, pelos seus extraordinários feitos futebolísticos, hoje, por maioria de razão, não nos devemos “agachar” perante o facto de não termos ido ao mundial de 2014. Manifestemos para com os nossos jogadores a nossa solidariedade, reconhecendo o seu esforço. Devemos sempre ser Cabo Verde no sucesso e no insucesso. O “caminho faz-se caminhando”, segundo a poética de António Machado. Cara levantada! Errar é humano! Só não erra aquele que não faz nada. Não há que ter vergonha dos nossos erros. A vida continua. Não fomos lá desta vez, mas havemos de lá ir, da próxima vez, pois existirão outros milhões de mundiais de futebol, onde, com certeza, Cabo Verde estará presente. Viva os Tubarões azuis! Viva Lúcio Antunes e toda a equipa técnica! Viva a FCF e seu presidente Mário Semedo e Viva Cabo Verde.

sábado, 28 de setembro de 2013

“Texto de suporte à minha intervenção no “Fórum Pensar S. Miguel”. Caracterizar S. Miguel (hoje) após mais década e meia da sua elevação ao concelho – um ponto de vista que importa reter".

(Parte II)
Após mais de uma década e meia da elevação da freguesia de S. Miguel ao estatuto de município e analisando alguns indicadores económicos (qualidade de vida, emprego, desigualdades sociais e pobreza do concelho e, ainda, analisando os indicadores de estabilidade social), pode dizer-se que o balanço é positivo, pelo que devemos homenagear todos aqueles que desde o inicio acreditaram em S. Miguel e apostaram na sua municipalização, separando-o do concelho do Tarrafal. Está a valer a pena o esforço. S. Miguel está longe de ser o pior concelho de Santiago e do país em matéria de desenvolvimento socioeconómico e especialmente em matéria de qualidade de vida da sua população e do capital social, faltando-lhe, no plano histórico e cultural, que a sua história seja escrita, através da exposição dos verdadeiros factos e motivos que o possam tornar numa das terras simbólicas e referência cultural e religiosa da ilha de Santiago e do país, ao que sem complexos devemos reafirmar que: amamos o nosso município, porque ele é também motivo de orgulho para os micaelenses” . Muita coisa já foi feita, mas muito falta fazer, por isso a inestimável importância deste fórum, sobretudo se pensarmos que através dele possamos mobilizar os quadros de S. Miguel espalhados, um pouco, por todo o país e pela diáspora, que possam, desta forma, tomar partido, dar a sua opinião e ajudar S. Miguel na construção de soluções e escolha das melhores opções de politicas para o seu processo de desenvolvimento.S. Miguel faz parte de uma região marcadamente agropecuária situada na região de Santiago-Norte. E portanto não pode ser compreendido de forma isolada. S. Miguel é parte desse todo que é a ilha de Santiago e parte desse todo que é o país e só nesse quadro  (e em comparação) deve ser estudado, questionado e compreendido, porque em S. Miguel existe também esse direito de produzirmos um pensamento global, para que possamos olha-lo, não de uma forma isolada, mas a partir de uma perspetiva nacional. Podemos começar por perguntar que concelho de S. Miguel temos hoje e que concelho queremos no futuro?  Esta é, sem sombras de dúvidas, uma das questões legitimas que este fórum deve colocar aos micaelense. S. Miguel (arcanjo) é nome do concelho, mas também é nome da nossa freguesia - uma freguesia cujo território é superior ao território municipal[i], que começa em a achada Laja, inclui uma parte da ribeira de Saltos; Uma parte dos flamengos, a vila ou melhor dizendo cidade de Calheta; Veneza, Ponta Verde; Ribeira de S. Miguel; Pilão-cão; Espinho Branco, Mato Correia, Achada do Monte, Ribeira de Principal, Chacha, Gon-gon, e Monte Pousada; Uma freguesia/concelho muito especial, único na ilha de Santiago com três cemitérios: o de Casa Branca; Ponta Verde e Bolanha, com várias capelas de construções manuelinas, tais como a igreja da Ribeira de S. Miguel; a capela dos flamengos; Achada do Monte a capela de nossa Sra. do Socorro (calheta); uma freguesia que possuiu uma larga comunidade da diáspora; Em termos de quadros, S. Miguel concorre com o concelho de Santa Catarina e Praia. Tem quadros formados em todas as áreas desde a economia, passando pela medicina, direito, gestão, matemática, histórias, Geografia, etc etc…S. Miguel é terra dos “Rebelados” (cuja verdadeira história deve ser contada), símbolo único da resistência religiosa do país. S. Miguel alberga o parque natural de Serra Malagueta, o único até então mais conhecido da ilha. O concelho de São Miguel possui (segundo censo 2010) 15648 habitantes, sendo que 7025 são homens e 8627 mulheres. A população residente é maioritariamente jovem e a maioria (71,8%) dos habitantes têm menos de 34 anos de idade. A maioria da sua população, cerca de 73% vive no meio rural e apenas 27% no meio urbano. É o quinto município mais povoado entre os 9 de Santiago, com 5,7% da população total da ilha. Perdeu cerca de 1% da sua r população nos últimos anos. É dos municípios da êra da democracia, o mais antigo. No que concerne os indicadores de satisfação de qualidade de vida, um estudo feito em Novembro/ Dezembro[ii] de 2012 indica que os resultados conseguidos pelo Concelho após sua elevação ao município são bastantes favoráveis, embora muita coisa falta fazer: No que toca ao emprego: segundo dados do INE (2011) ultrapassa os 12% da população ativa do concelho, mas este numero quando corrigido com o subemprego e empregos sazonais ultrapassam a cifra dos 17%. Acesso ao trabalho remunerado ainda que esporádico (biscates) 44,6%; Formas de gerar rendimentos por trabalho próprio 45,6%; Acesso ao trabalho remunerado regular (emprego) 37,3%. No que toca ao equipamento social e vida doméstica: Recolha de lixo doméstico (53,2%) dos respondentes avaliaram positivamente o município; Vestuário e calçado básico (indispensável) 60% dos respondentes disseram que não tinham problemas de acesso a vestuários; Alimentos disponíveis, para toda a família, 55,1% dos respondentes consideravam positivamente satisfeitos; Fogão a gás/Elétrico em casa 50,6%; WC/ Casa de banho em casa 51,7%; Frigorífico em casa 48,3%; Eletricidade em Casa 52,2%; Água canalizada em Casa 50,1%; Acesso a Locais de consumo dos produtos que necessita a preços razoáveis 45,2%; Manter/ter uma casa onde morar 40,8%. Emprego: Cuidados de saúde: Acesso a um Médico 50,4%; Acesso a Medicamentos 48,9%; Acesso a exames de saúde 46,8%; Transportes: Acesso a transportes dentro da ilha/município 63,1; Acesso a meio de transporte motorizado próprio 38,4%. A nível de Educação: Acesso a escola primária 64,6%; Acesso a escola Secundária 55,7%; Acesso a jardim-de-infância ou a local onde possa deixar crianças dos 3 aos 6 anos para poder trabalhar 55,9%; Obter material escolar 53%; Acesso a creche ou a local onde possa deixar crianças até 3 anos para poder trabalhar 44%; Locais seguros onde deixar crianças e adolescentes depois das aulas 48%¸ Acesso a Formação Profissional 48%;¸ Acesso à Universidade 34%. A nível de segurança: Caminhar na rua durante o dia em segurança 54,9; Segurança das pessoas dentro de casa 52,5%; Segurança dos bens existentes quando a casa está vazia 50,4%; Na existência de gado manter a Segurança do mesmo 45,6%; Caminhar na rua durante a noite em segurança 50,9. Apoios do Estado/ entidades não-governamentais: Obter ajudas em alimentos/ medicamentos / vestuário etc por entidades não estatais 36,4 %; Obter ajudas em dinheiro por entidades não estatais 35,6%; Obter ajudas em medicamentos por parte do Estado 34,3%; Obter Bolsas de Estudo 32,8%; Obter ajudas em alimentos por parte do Estado 31,0%; Obter ajudas em dinheiro por parte do Estado 33,3%. Esses indicadores suscitam-nos a conclusão de que foi uma grande conquista do povo de S. Miguel a elevação da sua freguesia a categoria de município: pode dizer-se que foi uma decisão que valeu mesmo a pena – podendo dizer-se ainda que pelos indicadores supra-a pontados, que é possível colocar S. Miguel (dos municípios mais novos), entre os municípios com bons indicadores de qualidade vida, onde o objetivo do milénio assumido pelo país possa também ser parcialmente cumpridos, quando comparado com outros municípios, designadamente os da ilha de Santiago, e mais especificamente quando comparado com os municípios de Santiago Norte. Do ponto de vista do posicionamento do concelho de S. Miguel no contexto de desenvolvimento de Santiago-norte, em particular e da ilha de Santiago, em geral, pode-se perguntar, que função lhe está reservada no conjunto dos municípios de Santiago-Norte? Que papel esta reservado a S. Miguel no processo de desenvolvimento de Santiago-Norte e da ilha de Santiago e do país? Estas são questões que, a meu ver, um Fórum desta dimensão deve procurar responder. Questões que devem estar alinhadas com a discussão das grandes questões nacionais, em relação as quais S. Miguel não participar de forma marginal e/ou desinteressada. Que a economia precisa crescer? Que o país precisa combater o desemprego, sobretudo nos segmentos mais jovens da população e que a inovação e o empreendedorismo podem ser o caminho que forneçam pistas e novos impulsos às iniciativas privadas que por, por seu turno, possam contribuir para impulsionar o crescimento e o emprego; Que as barragens de capitação de água tocam no coração dos cabo-verdianos (recriando a nossa cultura agrícola e a nossa relação com as terras) e podem proporcionar mudanças profundas nas relações politicas e sociais no campo, designadamente em Santiago e a nível de S. Miguel, realidade cujo impacto importa estudar e conhecer, pelo que urge desde logo pensarmos na melhor forma de distribuição de água para rega, para que a longo prazo possamos amortizar os investimentos; Que importa integrar os camponeses através de uma nova estratégia e visão de ordenamento do território no meio rural, designadamente em, S. Miguel; Que importa se calhar, aí sim, pensarmos num ordenamento do território com impacto na reorganização do espaço agrário das ilhas e quiçá numa reforma agrária que confere dimensão às pequenas parcelas de explorações agrícolas e que permitam o desenvolvimento das pequenas e médias indústrias derivadas do sector agrícola e áreas conexas, também em S. Miguel como solução de gestão da economia do município após construção das duas barragens. Que a construção das barragens constituem boa linha de infraestruturas para o país e como tal esse esforço deve ser apoiado, para que S. Miguel possa vir a ter as duas, senão três barragens, já que importa concluir a barragens da ribeira de S. Miguel (zona de forno), localizada em casa branca, zona de igreja.



[i] Não me parece que S. Miguel deva deixar morrer o dossier de recuperar parte da sua fronteira à sul, que pertencem hoje ao município de Santa Cruz e creio de Santa Catarina
[ii] Estudo de Caracterização Social e Politica, feita pelo Instituto Superior de Gestão e pela empresa Pitagórica, Estudos e Investigação e Sondagem, SA