sábado, 25 de julho de 2015

Diplomacia cabo-verdiana. Um eixo de esperança.


Segundo noticias, no Conselho de Ministro da última 5ª feira, o governo de Cabo Verde decidiu pela criação da Embaixada em São Tomé Príncipe, tendo subido, nesse caso, o nível de abordagem diplomática com São Tomé e Príncipe, elevando  o anterior Consulado- Geral ao estatuto de Embaixada. Bem o merece a nossa diáspora em STP. Não me parecendo seja uma espécie de «pré-aquecimento diplomático» em período de pré-campanha e por não me parecer seja nenhuma medida de «sobre diplomacia», a medida deve ser saudada e considerada como um sinal positivo de esforço do país e da nossa diplomacia, tendo-me agradado com a iniciativa, dado que a diáspora cabo-verdiana naquele país sairá a ganhar, perante uma medida que há muito tempo vinha sendo reclamada.

Essa decisão governamental pode estar alinhada com a recente visita do Presidente da República a STP? Não sei! Se assim for, bem para o país. Demonstra maturidade política das instituições da república, e que estamos a apreender com os nossos erros, especialmente porque colocado o interesse do pais e da nação acima dos interesses de cada protagonista (não importando os interesses particulares de cada titular). Não menos importante foi a visita do chefe do governo a Guiné-Bissau.

Deve ser encorajado esse tipo de iniciativa, pois Cabo Verde não pode poupar esforços no sentido de se encontrar uma plataforma de ação que forneça ao país uma estabilidade diplomática e política projetiva e continua  que norteiam a sua política externa, para que paulatinamente  sejam ultrapassadas o risco da desenvoltura do tipo de diplomacia furtiva, impeditiva de construção  de uma doutrina diplomática duradoura e estável. E isso consegue-se sendo proactivo e ousado e olhando para as "novas zonas de influência política e diplomática natural de Cabo Verde".

Por isso, medidas do tipo devem ser apoiadas e devem ser apoiadas também a aposta na aproximação diplomática de Cabo Verde à Guiné-Bissau  e também a aposta na integração regional na CEDEAO, numa relação de maior cumplicidade entre os dois Estados, onde a Guiné-Bissau pode funcionar como guarda avançada e Cabo Verde como sua retaguarda estratégica, no sentido de melhor e mais integração no espaço da CEDEAO e no fortalecimento das relações com cada um dos países membros.


Nesta matéria, o país deve atingir um grau de maturidade que o coloque num ponto de não-retorno, por forma a que possamos avançar, inequivocamente, qualquer que seja o próximo governo - de qualquer partido que venha ser governo. 
Tenho por mim que a Guiné-Bissau, São Tome e Príncipe e Angola podem ser estados associados de Cabo Verde e representarem um dos eixos estratégicos vital na afirmação do nosso país e no desenvolvimento da sua política  externa, complementando a geopolítica que, no futuro, poderá desenvolver-se nesse espaço de interesse  «glocal» de penetração mundial - tido como espaço de atlântico médio.

Cabo Verde não pode perder tempo no delineamento dessa visão geopolítica e estratégica na construção do seu «CEN - conceito estratégico nacional» como razão vital e estratégica de muito longo prazo, conquanto ponto partida para a sua participação política  consciente na comunidade mundial. A Guiné-Bissau, como prémio pelo seu passado político, militar e diplomático de «sobre esforço» e alto engajamento na luta pela independência; São Tomé e Príncipe pela proximidade diplomaticamente indutora da nossa nação, motivada pelo peso dos cabo-verdianos na sua estrutura social. Angola por variadíssimas razões estratégicas, mas, assumidamente, conquanto potência futura  sub-regional”, regional e africana, com capacidade de projeção de forças que possam, no quadro da estratégia de segurança cooperativa do atlântico médio, contribuir para garantir a paz e tranquilidade a essas nações ribeirinhas e torna-las credíveis na proteção das suas posições externas, no âmbito dos seus interesses geopolíticos.

abertura de Embaixadas em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau e em mais alguns países da CEDEAO, designadamente na Nigéria, pode virá configurar-se como uma premente necessidade no futuro próximo, fornecendo conceitos, pensamentos e elementos estratégicos vitais na construção de uma nova doutrina diplomática complementar para Cabo Verde, adentro do principio daquilo que poderá vir a ser o  CEN - conceito estratégico nacional de Cabo Verde e que permitirá a afirmação de Cabo Verde, enquanto polo de desenvolvimento sustentável e credível no atlântico médio.

Por ocasião da luta de libertação nacional, Amílcar Cabral teria lançado o principio da  «unidade da Guiné e Cabo Verde» um povo e uma só nação como razão para a mobilização da luta na Guiné e em Cabo Verde perante um inimigo comum. Olhemos para esta perspectiva de um outro angulo! uma ideia considerada na altura virtuosa, cuja fundamentação poderá ser re-abordada  (hoje) de um outro angulo, ao nível do desenvolvimento das relações entre Guiné e Cabo Verde. Não nos mesmos moldes, porque os inimigos comuns mudaram de perfil, mas tendo como elemento nuclear a democracia, a boa governação, o bem-estar social, a qualidade de vida dos cidadãos e a promoção do Estado de direito democrático, no sentido de "associação desses dois Estados". 
Hoje podemos ler esse pensamento de Amílcar Cabral em como tendo sido no plano das ideias políticas, uma ideia que apontasse para a necessidade de uma «ancoragem» de perfil geoestratégico para Guiné e Cabo Verde. Se o principio que esteve na base da ideia de  «unidade da Guiné e de Cabo Verde»  for filosófica e politicamente revisitado e bem identificado e se for reconceitualizado pode, eventualmente, configurar-se como sendo atual, podendo servir como forma de retomar o olhar para a formulação desse novo paradigma.

Por exemplo, a ideia de Estados-Associados pode ser pensada e desenvolvida entre Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tome Príncipe, numa primeira fase e, Angola e Brasil numa segunda fase por serem todos estados ribeirinhos.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Morreu o nosso Poeta!


 A morte hoje anunciada do poeta Corsino Fortes é mais uma prova do silêncio que a morte nos impõe. O nosso grande poeta morreu. Fica o legado do seu poema. Fica o conhecimento que em vida soube partilhar. Fica a áurea de um homem “solene” que desde que nasceu decidira não morrer. Ficam os seus amigos. Os livros que escreveu. Os filhos que teve. O poema que nos dedicou. As causas que abraçou. E o país que ajudou a construir. Ficamos nós aqui Dr. Corsino Fortes com eternas saudades e a estudar o património que nos deixou. Siga-nos do alto, porque seremos todos testemunhos do merecido panteão que em vida soube construir. Eterno descanso.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

CRONICA SOBRE A "MORTE".


Há dias um amigo chamou-me para me dar notícia de que teria morrido a irmã de um outro amigo comum. Nesse mesmo dia, ouvi choro em casa de um outro vizinho e vi que alguém, por lá, teria morrido. No caminho para ir dar pêsames a casa desse amigo vi funerais. Ouvi notícias de desaparecimento físico de alguém. E depois faleceu a minha querida irmã Mariana, cujo sofrimento e morte acompanhei até o último minuto. Prometi, então, escrever esta crónica, à sua memória, sobre a morte, porque pressenti que “nós não somos donos de nós”  e porque num belo dia nascemos por causa dos outros e, num triste dia, outros narrarão a nossa morte!. E porque nunca narrarei a minha própria morte?!

Questionamentos, sem respostas, com causalidades múltiplas, que nos surgem ao longo das nossas vidas, sempre que um familiar, um vizinho, alguém amigo ou sempre que ouvimos noticias que alguém terá morrido. Ou sempre que as causas da morte de uma determinada pessoa provocarem alarme social e forem razão da notícia pública -provocando espanto. Desde a Grécia antiga, idade média, até os nossos dias, a tentativa de se encontrar uma explicação para a desconstrução do fenómeno da morte apontou sempre para a realidade de não sermos donos de nós e que a caminho da morte, (nós) homens, pela nossa consciência, tendemo-nos a procurar um amparo. Criamos e admitimos Deus, como ponto de chegada, conquanto circunstancia omnipresente (não material) que infelizmente os olhos do nosso corpo físico não conseguem ver. E a dúvida metódica tornara legitima a seguinte observação: como é que podemos ter garantias de ver Deus depois da morte quando desconhecemos a forma de visão (se existir!!!) que hipoteticamente re-adquirimos na morte, já que os olhos físicos que transportamos desfazem-se com a morte? A Sagrada escritura esclarece-nos que é por via  da fé, caminho através do qual  transpomos o nosso limite e apercebemo-nos da existência de Deus.

Olhemos, então, para a nossa limitação material que é que aquilo que nos faz aprender a lidar com as causas das causas da morte e não, diretamente, com a morte, enquanto fenómeno perpéto  e repetitivo, em si. O ensinamento de que alugueres um dia a morte dissera a um velho Caminhante: “no dia em que alguém me apanhar a matar alguém, deixarei de matar” fdc exprime e nega a existência de uma causalidade direta entre o acto de morrer e a morte. A morte não atua, por si só, enquanto fenómeno virtual isolado que pressiona a existência material dos individuos, ela atua e exprime-se através das suas causas - das suas razoes. A morte nunca mata todos de uma só vez, o que conseguintemente toca um certo princípio casuístico da racionalidade que o acompanha (fazendo escolhas) quando ela actua - por parecer manifestar-se através de uma certa equação e através deste principio: " a morte não nos mata todos de uma só vez".

Por via da contemplação da alma e do espirito: morrer significa deixar que o nosso espírito se deslize pelas mãos de Deus, dizia S. Francisco de Asis. Sempre que alguém morra  voltamos a fazer a pergunta: Onde estás Tu óh morte? Porque nos mata? Como a morte parece, tão só,  ponto de partida que nega a vida (o sítio geral que dominamos), caímos quase sempre no mutismo  do desconhecido ou da ilusão que resulta da nossa perceção geral da invetavibailidade da morte, por que impotentes perante o fenómeno e perante as suas causas. 

Porque choramos quando se morre? Enquanto vivos choremos por nós próprios: “vós mulheres não chorem por mim, chorrem antes por vós mesmas” dizia Jesus Cristo no suplício da Cruz. Discutir a morte é encontrar um lugar-comum a partir do qual podemos encontrar explicações das causas das causas da morte: as causas, das causas, das causas da morte e aceita-la como um fim. A morte cria-nos uma expetativa negativa e lenear da consciência de que não somos donos de nós. Eu não sou dono de mim? Questiono-me sempre? Porque existe uma parte de mim que não me pertence; Sobre a qual não tenho nenhum domínio. Essa parte de mim está ligada ao meu nascimento que dependeu de outras pessoas e da minha morte que irá depender das suas causas. Eu, enquanto individuo, com a minha consciencia estou situado no meio, aberto dos dois lados, quando eu nasci e quando eu morrer. 

Porque morremos – nós - então? por uma fatalidade e desígnio superior qualquer, onde cada homem termina a sua relação com um universo «culto-material e imaterial» específico e finito. Mais ou menos rico. Sempre original, pelo menos irrepetível na acessão individual da palavra. O que o homem deixa quando morre, designadamente os seus escritos, os objetos culturais que criou. A memória da sua palavra. Os filhos que conseguiu ter. Os seus gestos. O seu sorriso projetado muitas vezes naqueles que com ele viveram. O silêncio fúnebre do leito da morte. Tudo exprime uma harmonia de contrários em autoafirmação e de negação constante que se afirma ao longo da vida e com a presença da morte. Uma causa. Uma consequência. Uma ordem. Uma realidade finita e infinita que está para além de nós, para além do nosso corpo material e físico.

Temos a consciência de que as causas de um determinado fenómeno, nem sempre explicam a sua origem. E em presença das causas da morte produzimos aquilo que Santo Agostinho chamava de narrativa resignativa do homem em relação a inevitabilidade de um fenómeno natural que não domina - que traduz uma certa crença omnipresente permanentemnete em confronto com a sua existência. A força de contrários como perceção fundamental, que se exprime na morte: a forma mais acabada de expressão dessa força de contrários na esperança de que existe vida para além da morte? Questiono. Se se criam a consciência de que existe vida para além da morte, nega-se a própria morte enquanto percuso inevitavel. E ao nega-la reafirma-se a existência da vida, enquanto forma de eclosão existencial. Pura negação da negação, enquanto prova filosófica acrítica de que existe vida para além da morte.

O facto de eu imaginar que a minha falecida irmã está hoje no paraíso, alivia a minha angústia e a minha dor e manda a minha consciência regressar à normalidade das coisas do dia-a-dia, pois se a minha irmã está no paraíso é porque ela está bem e se ela está bem não tenho que com ela me preocupar. Essa é uma das muitas posições que se criam perante a morte de alguem, sobretudo alguem que conhecemos ou de um familiar. Se nascer e viver foram e serão privilégios da existências de uns quantos biliões, triliões ou quatrilhões de seres vivos que vivem no mundo, morrer pode ser entendido como extensão da vida e, seguramente, como uma forma de se atingir a uma nova vida. É a certeza de que um dia havíamos nascido, momento a partir do qual o homem, o único que detém a consciência de que algures no universo existe uma dimensão temporal explicativa finita e intemporal que pode manifestar-se através da consciência da vida e interrompida através da consciência da morte. Por si só existe a consciência da morte porque temos o privilégio de sermos testemunhos da morte dos outros, facto que gera em nós o medo de morrer. E fica a pergunta: como ultrapassar o medo de morrer? Não se resolvendo o medo de se morrer com a morte,  atenua-se conspurcando o facto de existir vida para alem da morte.Quando admitirmos a existência da vida para além da morte e formularmos esse desejo em benefício de alguém que morreu, estamos a contratualizar uma esperança: quando eu morrer, vós que podeis assistir a minha morte rezem por mim e peçam a Deus para me acolher no paraíso eterno, como recompensa prometida e merecida.

Na morte - ao homem - é subtraída a consciência que emana do seu corpo físico, conquanto dimensão disruptiva do individuo. Na morte existirá uma ética fatalista que fornece explicações, através de frases como esta: uma vez nascido, todas as criaturas detentoras do corpo físico têm uma probabilidade certa de morrer. Fdc, dizia Almeida Filipe num brilhante texto sobre o tema. Morrer é coisa natural”. Fulano ou Sicrano morre de doença prolongada. Fulano ou sicrano foi vítima de homicídio. Fulano ou sicrano foi vítima de acidente. Isto é, logo que temos notícia de que alguém morreu, perguntamos do que é que ele se padecia e/ou aconteceu? Pois a existência do nexo de causalidade direta entre a morte e suas causas permite aceitar tais causas como sua razão vital, por isso se procura sempre pelas causas da morte. Por detrás do nascimento de qualquer “Ser” está um acto de criação e de amor! E por detrás da morte, o que estará?  As suas causas ou racionalmente as causas da sua razão vital.

Jankélévith afirmava na sua poética: //onde eu estou//a morte não está// e quando a morte está lá// sou eu que já não estou mais//. Enquanto eu estou// a morte virá// e quando a morte vem, aqui e agora já não há ninguém//. Somos mortais, fisica e conscientemente. Morremos um dia, mas a consciência, por que (presume-se) mortal (porque depende do corpo físico), prefere (em vida) construir e admitir a imortalidade como um recurso e um estádio para além do corpo físico, atingível com a morte, assumindo e admitindo um cenário da transcendência da alma e do espirito, enquanto razão vital do nosso corpo fisico. Neste cenário quando se morre extingue-se o nosso corpo físico e a nossa alma, por hipótese, junta-se ao nosso espirito para se começar de novo”. Admite-se a morte enquanto estado simbólico : morre-se para se atingir a purificação”. Morre-se para se negar a matéria. Morre-se para se ir ter vida para além da morte e para se ver Deus etc...etc.

Medimos a existência da alma também quando dizemos que ela existe, para reconhecermos de que ela torna ilimitado a matéria finita que é o nosso corpo físico, associando-se ao espirito. A alma confere assim aos seres vivos com consciência de que é a consciência que a imagina e a faz brotar da consciência que emana do corpo físico, a ideia da imortalidade. A Escritura Sagrada fornece-nos pistas completas sobre a morte. Pela escritura Jesus ressuscitou ao terceiro dia, após a sua morte e quando ele reaparece aos discípulos, pela primeira vez, disse-lhes: a paz esteja convosco como se ele próprio Jesus (que é Deus) tivesse regressado de uma grande batalha (um conflito) embora não assumindo o corpo físico que detinha antes, mas sim manifestando-se através do espirito.

Para nós Seres humanos quando uma pessoa morre, morre a sua consciência. A morte é aquele fenómeno que verdadeira e inexoravelmente separa o corpo físico do “corpo” espiritual e logo coloca um ponto finito na consciência que emana desse corpo físico. Os seres inanimados não morrem, porque não têm vida. A morte, enquanto etapa do processo existencial é, (enquanto faculdade natural), conferida apenas aos seres animados porque fixa, de forma intemporal, o nosso limite. E é repetitivo. E ao colocar esse limite sugere que a perpetuidade da vida dos seres animados  dá-se pela conformação reprodutiva da espécie. Temos um curto tempo de vida mas, antes disso, reproduzimos e deixamos filhos. Ou se germinam novos seres. Os nossos filhos são a nossa extensão. O nosso prolongamento. Nessa perspetiva a morte é também centro vital da existência. Nossa razão vital porque justifica a reprodução da espécie. E é nesse estado da arte que visualizamos a morte no seu género (des)construtivo, como razão vital.

Na presença da morte consentimos quase sempre a existência de Deus (por isso rezamos) único conceito que por que inatingível, imaginamos ser o dono dos fenómenos que não conhecemos e, por isso, dominador da origem da morte e que permite a sua negação, através do trilho dialético da vida, introduzindo dois caminhos - o caminho da reprodução da espécie e o caminho da ressurreição – ambos verificados e testados pela ciência, pela história e pela doutrina. Não raras vezes sonhamos que vimos alguém morrer. Ou que nós próprios morremos. E quando sonhamos que morremos, não raras vezes, acordamos (atónitos) assim que a consciência nos toca o alarme da vida – e dizer-nos que apesar de termos sonhado (as vezes) vigorosamente que morremos  estamos vivos e que importa acordar. A verdade é que a morte, enquanto tal, procura negar o que se possa considerar a presença vital da vida. Ela não se relaciona de forma direta e acrítica com a mesma. De sorte que a própria ciência, passando ao lado do fenómeno da morte, investiga as suas causas, movida por um tipo de argumento vencido que, pela sua complexidade disruptiva, quando, em presença da morte, deturpa o conhecimento sobre o tema, (assumindo a naturalidade das coisas) preferindo lidar com as suas causas e nunca com a sua origem: morre-se porque algo aconteceu, não porque a morte resolveu agir, recorrendo-se às suas armas, que nós, seres animados pela consciência, tomamos como sendo causadores da morte. Intuitivamente assumimos que existe um princípio para o começo da vida, e existirá um outro princípio para o fim da vida - que é a morte.

A narrativa crítica da morte em relação a vida toca o que estará por detrás da sua razão vital. Facto que para nós se torna numa realidade desconhecida. Dura a forma como a morte lida connosco e nos manda matar, e silencia o nosso corpo físico, através das suas armas – as suas causas. Onde estás Tu ó morte? Onde está o teu poder tão forte? E onde está a tua vitória. É a pergunta de sempre. As perguntas que nos sobram fazer, eriçadas por uma espécie de egolatria da própria morte, que exibe o seu poder, perante as nossas fraquezas – que no fundo exterioriza e nos teoriofedeliza perante um fenómeno impossível de detalhar. Mas o que é isto de morrer? Morrer significa o que é? É deixar de viver. É perder vida. É iniciar uma nova etapa do processo existencial? Talvez seja isso. Talvez não seja!  O que se pode concluir é que "nós não são donos de nós próprios", dizia eu no início desta crónica à memória da minha falecida irmã, Mariana! Pois nenhum de nós é responsável direto pela nossa vinda a este mundo e nem seremos os responsáveis pelo seu abandono: Alguém conta por nós como nascemos e alguém contará por nós como morremos. Nunca vemos alguém contar a forma como nasceu e nem ninguém contará a história da sua própria morte.

Nem Jesus Cristo o fez. Há um sopro da vida e haverá sempre um sopro da morte. Pergunta-se: quem detém a capacidade de os produzir e de os gerar e gerir? Talvez a providência divina. Talvez a Santíssima Trindade. Talvez a existência - talvez o trilho de Deus Pai todo-poderoso – princípio e fim de tudo quanto existe. Sítio imaterial onde reside a origem e a não origem das coisas. Se um dia a ciência procurar investigar e dar como explicado o fenómeno de Deus, discutir-se-ão melhor a origem da vida e aceitar-se-ão melhor a morte e não nos conformaremos, simplesmente, com as suas causas como sua razão vital. A morte nega a intemporalidade aos seres animados (diga-se em primeiro lugar o homem) tendo como virtude para quem acredita na vida para além da morte, que poderá ser o salto quântico para se conhecer a imaterialidade do Conhecimento e de Deus. Não somos donos de nós! um belo dia nascemos por causa dos outros e num triste dia outros narrarão a nossa morte!