domingo, 13 de janeiro de 2013

Recordar 13 de Janeiro de 1991

Não se podendo comemorar solenimente 13 de Janeiro, como se comemora 5 de Jullho, é bom que a data seja solenimente popularizado - que seja data do povo, como o é 5 de Julho. Apesar disso, cada ano que comemoramos 13 de Janeiro ficamos mais velhos, mas com o orgulho de  pertencermos a uma geração que teve o privilegio de assistir o nascimento da democracia, cantada, na nossa juventude, bastas vezes por "Bulimundo", num "funaná" que contagia, ferindo de morte o partido único e que, ainda assim, não deixava ninguém indiferente: "demo-demo-demo-cracia, cantava e tocava  "Bulimundo".

Comemorar 13 de Janeiro é, portanto em conclusão, evocar a democracia. É evocar os direitos, as liberdades e garantias para todos os Cabo-verdianos. É relembrar o dia em que tudo se renasceu, incluindo a Constituição da República e um Cabo Verde "di speransa" como cantava o nosso imortal Norberto Tavares.  13 de Janeiro é sinónimo de festa popular, por isso recordar 13 de Janeiro é assumir a emancipação do país e a manifestação dos cidadãos de forma livre, sem amarras, como forma de expressão politica. É negar a prredistinação poética do «evasionismo literário»  deste povo. É afirmar a diasporicidade das nossas comunidades nacionais e a emigração dos nossos concidadãos como condição do destino e da emancipação de toda a Nação. É identificar os limites políticos do nosso processo histórico. É conhecer o seu segundo ponto de rutura e afirmação, a seguir a 5 de Julho de 1975. É assumir uma nova etapa e um ponto de viragem e novas oportunidades – uma nova curva de valores e de possibilidades - fazendo com que os Cabo-verdianos passassem a sonhar. Damos, por isso, viva e boas-vinda a 13 Janeiro.

A 13 de Janeiro 1991, os Cabo-verdianos disseram e confirmaram com o seu voto, sua participação cívica, que é possível acreditar num Cabo Verde não só independente, mais num Cabo Verde de liberdade e de democracia; Num Cabo Verde desenvolvido, onde exista justiça social. Um Cabo Verde de oportunidades para o seu povo, disposto a regenerar-se; Que convida todos os seus cidadãos a se convergirem na defesa dos superiores valores da Nação no pais e nos 25 Estados que acolhem a nossa emigração.


Em termos de valor perante a história, 13 de Janeiro de 1991 ombreia-se com 5 de Julho de 1975, dia da independência de Cabo Verde: as duas datas têm uma dimensão histórica complementar em relação ao processo de emancipação política de Cabo Verde, por isso razão a aqueles que defendem que se trata de uma data solene, por que "data-grandi" do país e da Nação. É consensual que a 5 de Julho de 1975 o povo cabo-verdiano foi libertado do jugo colonial. Mas  a13 de Janeiro de 1991, sem negar esse esforço, a dialética e a sistemática cultural de 5 de Julho, foi reafirmada a sistemática de democracia através da liberdade (vazado num sistema constitucional representativo) formado por partidos, e o povo - esse- acrescentou à cultura cabo-verdiana a sistemática da participação politica e eleitoral, pois nesse dia fizemos também parte dos cidadãos que participaram nas longas filas no pais adentro a espera de poderem votar - e votando o povo protagonizou a mudança politica.

O que fica do ponto de visto histórico, é que os Cabo-verdianos conseguiram demonstrar engenho e capacidade de enfrentar e vencer a sistemática do colonialismo; de enfrentarem e vencerem a sistemática do regime de partido único; de não se acomodarem e de protestarem com o seu voto quando descontentes; de incorporarem e rejeitarem formas de dissidências orgânicas e inorgânicas quando disso se tratar; De negar a manipulação politica; De afirmarem no plano global como um povo trabalhador, culturalmente forte e sedutor; de assumirem hoje a construção da sistemática do desenvolvimento como desígnio nacional.

Este tempo de 13 de Janeiro nesse ano de 2013, é um tempo para reflexão, onde a crise internacional nos espreita. Momento ideal para levarmos o país a voltar a sonhar e a alargar as perspectivas e visão que os Cabo-verdianos devem ter da sua própria terra. No fundo 13 de Janeiro é o dia ideal para alargarmos o sentimento político de pertença que, devendo estar alinhado com processo de desenvolvimento e com a justiça social, defenda e substitua a estratégia da evasão e da diasporicidade pela estratégia de circulação, combata a perca de valores, desencoraja as dissidências, cultivando o amor patriótico, num Cabo Verde que deve apostar na igualdade de acesso às oportunidades económicas; num Cabo Verde exigente, que nao se acomoda, que recusa ser país dos mínimos democráticos, mas onde todos os seus cidadãos sejam vencedores e ninguém é descriminado ou vencido à nascença ou forçado a emigrar, como no passado, podendo todos saírem do pais e regressarem com toda liberdade e sem quaisquer espécies de limites e de constrangimentos.

13 de Janeiro de 2013 pode ser de facto um dia especial para todos, tanto para o MpD, como para o PAICV. Pode ser considerado ponto de viragem política do país, porque o foi no passado. Dia 13 de Janeiro é sem dúvida dia da mudança, suscetível de enquadrar, em certa medida, esse novo paradigma e esse desejo nacional de mudança, reafirmando o princípio geral de que o povo de Cabo Verde pode e tem o direito de ousar sonhar. De sonhar e vencer.  

5 de Julho e 13 de Janeiro permitiram que a nação cabo-verdiana entrasse, hoje, em 2013 e comemorasse este 13 de Janeiro com um regenerando sentimento de vitorias, mas, pode dizer-se, sem a necessária consciência de soluções perante os seus principais desafios e incertezas, sendo que tais desafios deveriam conferir-nos mais responsabilidades, mais confiança individual e coletiva, permitindo a identificação e caracterização das principais ameaças estratégicas que nos espreitam, como a crise internacional, os seus pontos fortes e fracos, para que fazendo com que o processo de desenvolvimento seja verdadeiramente sustentado e irreversível, corrigindo o posicionamento que o pais tem vindo a ter em relação ao fenómeno do desemprego, abraçando uma nova esperança, aprofundando a democracia representativa e fazendo com os Cabo-verdianos assumam a ideologia da independência, a autoconfiança, a democracia, o debate democrático e a liberdade de expressão, enquanto causas sagradas inseridas no bojo da expressão desse que é seguramente o ponto de viragem para Cabo Verde.

Miguel Cruz Sousa